Áurea, a louca da Lua de Andrômeda- Continuação: o beijo de amor

Cirrus, 51 de Ceres 9002
Querido Orfeu,
Saudades!!!
Espero que Hermes te entregue minhas palavras. Recebi tua carta e hoje quero te dizer de um fato especial que lembro agora. O nosso primeiro beijo de amor, Amado. Ah!! Foi o mais sublime, inesperado e inesquecível de todos. Era o mês de Sírius, se não me engana o esquecimento, só podia ser. Havia muita luz naquela, ainda, noite... Noite dentro do meu ser. Estava sob a árvore-livro à tua espera. Enquanto isso lia em suas páginas as águas do rio a passar. O rio de estrelas sob o meu céu de asteróides, testemunha risonha de nosso futuro encontro. Chegaste devagarzinho... Sorrateiramente... Com seu detalhismo capaz de tornar qualquer momento ímpar. E ao te cumprimentar, por sua chegada em Andrômeda, puxaste-me contra teu corpo e beijaste-me, sem pedir permissão, com uma coragem que, confesso, me surpreendeu. E naquele instante não lutei, nada fiz, eu realmente aquele beijo quis. E ao nos beijarmos algo estranho e mágico aconteceu: beijamo-nos numa sincronia inexplicável, como se já conhecêssemos o jeito um do outro. Senti como se a chave capaz de abrir a porta, mais recôndita de minha alma, fora encontrada. Penetraste meu ser e tiveste acesso às minhas energias, minha alma, minha vida... Forças nos envolveram, outras saíram de mim e te envolveram em tamanha proporção que pude te sentir em todas as dimensões. Entreguei-me em corpo, alma e espírito naquele momento, em doação, sem saber o porquê, sem conseguir nada conter... Senti-me totalmente fraca e frágil em teus braços, sobre teu peito etéreo, enquanto meteoros iluminavam o futuro. Aquele beijo mudou nossas vidas de alguma maneira. Única benção de nós dois que guardo. Única benção por ter sido verdadeira e que não foi contaminada pelo submundo negro espalhado por toda parte, até mesmo dentro de nós mesmos quando o permitimos. Nada nos atingiu naquele momento. Fomos autênticos: nós mesmos e nosso sentimento: o amor. E sei: sempre estivemos juntos na alegria e na dor, na saúde e na doença, mesmo longe, estivemos perto. Eu sei. Você sabe. Nossa aliança eterna independe do tempo e do espaço ou de qualquer tipo de laço. Mas o que fizemos com esse nosso tesouro, pelo qual ricos e pobres sonham em senti-lo e dariam metade de suas vidas para não deixarem a morte sem conhecê-lo? O que fizemos?! Penso, aqui, solitária entre a imensidão de estrelas desta lua, únicas companheiras nessa espera por ti e que ouvem num silêncio triste minhas perguntas: quando poderás me encontrar, quando poderei novamente afagar teus cabelos, tocar teu rosto , beijar tua boca e te ter por inteiro.

De tua Áurea, a louca da Lua de Andrômeda.

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imagem: internet