À ESPERA DA ESPERANÇA


Olá, como vai você? 

Você ainda se lembra de que no início do nosso relacionamento nós éramos quatro: eu, você, a felicidade e o amor que existia entre nós?

Eu sei que você prefere não lembrar do nosso passado, mas ele ainda está vivo no nosso presente, e é por isso que eu vou falar um pouco dele agora. 

Você se recorda que éramos todos parte integrante de uma vida que parecia nunca ter fim? 

Vivíamos sempre lado a lado e éramos verdadeiros dependentes um do outro, apesar de a felicidade ter procurado viver cada vez mais distante de nós, sempre arranjando pretextos para não participar ativamente do nosso cotidiano. 

Você também se recorda que nós (eu e você), a felicidade e o amor tínhamos tudo para dar certo e não poderíamos ficar sequer um minuto um longe do outro? 

Durante toda a nossa existência fizemos planos em conjunto, montamos e desmontamos nossos castelos de sonhos, construímos nossos projetos voltados para o futuro (até então inacabados), e por incrível que pareça ainda hoje agimos assim. 

Estávamos sempre nos alternando nos momentos em que tentávamos resolver as nossas dificuldades, e ali priorizávamos os momentos de gratas eficiências e descartávamos aqueles de raras ineficácias que por vezes nortearam nossas relações. 

Éramos e ainda somos quatro, em que pese às dissidências havidas entre nós. Eu, você, a felicidade e o amor apesar de não formarmos mais aquele quarteto indissolúvel de outrora, em razão de ter havido algumas discordâncias no decorrer do nosso dia-a-dia, não estamos definitivamente separados conforme comentam as más línguas. 

É claro que eu já não vivo mais ao seu lado amparado pelo amor e nem ladeado pela felicidade como vivíamos antes, mas ainda somos os mesmos seres de outrora. 

Segundo Shakespeare, "depois de algum tempo você aprende que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte" e, em assim pensando, não faz sentido a existência de algumas discórdias e indiferenças tolas, entre nós. 

A título de ilustração, vejamos, então, o que aconteceu em tão pouco tempo: 

Primeiramente, você sem nenhum motivo brigou com o amor, que sem ao menos me ouvir, brigou comigo e eu sem nenhuma razão plausível acabei mandando a felicidade embora que nada tinha a ver com toda essa celeuma e ela ao se encontrar com a solidão pediu que esta não se afastasse de mim. E eu, perdido que estava e não sabendo mais o que fazer, recorri à minha grande amiga esperança. 

Como você pode ver, eu já não vivo mais desacompanhado conforme tenho aparentado, pois apesar de você não se encontrar ao meu lado como antes, a solidão está me paquerando e, consequentemente, pretendendo ocupar o espaço vazio deixado em meu coração desde o instante em que você e a felicidade acharam que deveriam brigar comigo. Ela, a felicidade, depois de tudo o que aconteceu nesse nosso último desentendimento fez uma viagem para um lugar chamado "esqueçamos tudo" e de vez em quando ela manda notícias dizendo que breve voltará, mas eu confesso que ainda estou dividido entre o amor e a esperança. 

Por outro lado, estou sabendo que você atualmente vive namorando a saudade que é a atual predecessora desse nosso velho amor mal compreendido e que por enquanto ele ainda anda à procura de uma tal felicidade. E também sei que essa tal felicidade não é aquela que nós, de forma intempestiva, a mandamos embora e sim uma outra que fora companheira de quarto dessa atual solidão que está à nossa volta. 

Coincidência ou não, novamente nos encontramos, desta feita em número de quatro sobreviventes: eu, você, a solidão e a saudade, sendo que cada um de nós está tentando formar um novo par, a saber: 

A solidão, persistente que o é, tenta a todo custo ocupar o espaço vazio existente em meu coração, mas a esperança já me procurou e nós já estamos de malas prontas para seguirmos viagem para um lugar chamado "ainda há tempo". 

Quanto a você, eu pouco sei a respeito do seu relacionamento com a saudade. Falam que ela freqüentemente tem batido à sua porta e você, teimosa e intransigente que o é, não lhe tem dado ouvidos. No meu entender, acho que você deveria ouvi-la. Afinal de contas, você está precisando desabafar com alguém. Na verdade, nós precisamos nos encontrar de novo para conversarmos um pouco acerca de tudo. 

Acho que você deveria dar um telefonema para o amor e eu telefonaria para a esperança. Eu vou pedir a ela que deixe a felicidade de sobreaviso, pois após esse nosso novo encontro certamente estaremos prestes a precisar de sua ajuda. Outra vez, juntos, quem sabe, formaremos aquele grupo indissolúvel que ora anda mais p'ra lá do que p'ra cá. 

Até breve! Eu vou desligar porque nos dias de hoje os impulsos telefônicos estão cada vez mais caros e juntando a nossa situação afetiva com a dos impulsos dos nossos corações que estão cada vez mais acelerados, talvez causemos uma pane no sistema.
 
Em qual deles? No telefônico ou no circulatório? Pouco importa, o que importa é que éramos um quarteto (eu, você, o amor e a felicidade) e que apesar de tantas discórdias, dissidências e desencontros, hoje nós formamos um quinteto: eu, você, o amor, a esperança e essa tal felicidade que sempre manda avisar que está para chegar e nunca chega. 

Sejamos sensatos, não nos desesperemos, pois dentro desse nosso novo grupo temos uma grande aliada que é a esperança e mesmo que nós (eu e você) morramos antes da chegada da felicidade, ainda restarão o amor e a esperança para nos representar. E se o amor não conseguir esperar, por ser menos forte que ela, eu tenho a certeza que ela nos representará de uma forma plena. 

Enfim, será que você já se esqueceu de que nesse nosso último grupo indissolúvel a esperança é a última que irá morrer?

Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 14/10/2006
Reeditado em 16/06/2007
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