Carteiro

Eu tava aqui pensando se, nessa tarde quente do primeiro dia de dezembro, existe alguém que se sente como eu. Será que existe? E essa casa do lado da minha parede, será que abriga alguém com a mesma sede por amor? Eu sei, parece clichê essas cartas cheias de romantismo né... Mas não sei mais o que faço, me descobri assim, romântica, apaixonada, boba mesmo... É que eu cansei daquela máscara e daquele escudo escuro e pesado. Eu cansei, não sei se você entende, mas acho que todo mundo cansa de alguma coisa algum dia.

Hoje eu tirei o relógio da parede, tirei o sorriso dos dentes e a minha voz se fez silêncio o dia inteiro. Não, não precisa se preocupar, não escrevo porque estou triste não... Escrevo porque dois ouvidos não bastam, os meus já sabem da história, não querem escutar. Até desconfio que meus ouvidos queriam nascer olhos e não ouvidos, mas deixa pra lá, essa história te conto em outra carta.

Enfim, vim te escrever porque estava quente e o meu corpo se incomodou no quarto vazio. Calma, darling, essa não é uma carta de amor (embora fale de amor) nem de saudade nem de dor. Essa carta é um desabafo, desses que combinam com o verão quando as pessoas não se importam com nada até acabar o carnaval. Meu desabafo é pra dizer que eu me importo e sinto falta de abraços. Darling, nunca deixe de abraçar quem você ama, tá? Sei que poderia te escrever um e-mail pra dizer essas coisas mas escrevo essa carta, afinal, alguém tem que agradecer ao carteiro.

01/12/10