Caro amigo poeta Damião Ramos Cavalcanti:


       O sol  mal tinha me tirado da cama e sou presenteada com teu poema. Um amanhecer poético que me remeteu ao passado. Eu também tive uma árvore. Quem sabe voce conheceu o objeto de minha paixão. Era uma magestosa árvore que morava na ponta do Cabo Branco. Era a única e perfeita sombra que existia nos arredores. Durante décadas, me habituei a vê-la. Logo dela me apossei. Era minha árvore. O tempo passou. Sempre que eu partia, no regresso corria na barreira para matar a saudade. Com o passar dos anos, uma tragédia deu início. A erosão despia suas raizes, deixando-as à mostra. Sua morte estava escrita. Durante anos ela ainda desafiou a gravidade equilibrado-se nas poucas raizes que ainda restavam. Mas, o inevitável, aconteceu. Minha árvore tombou. E, lá ficou estendida na areia da praia do Cabo Branco. Era um gigante vencido pelo tempo. Mas, minha paixão continuava. Sempre ia vê-la, enorme, dormindo. O mar a lambia sempre que a maré subia.Com o tempo foi prateando. E, mais uma vez voltei a me apaixonar, agora pela árvore de prata.
      Mas, o que fazer? Ela estava longe de mim. Imperioso resolver a distância. Mas, como levar minha arvore de prata? Depois de semanas de cálculos e medidas, foi  decidido. Levaríamos ela num caminhão. O trabalho demorou uma semana, já que só podia ser feito na maré baixa. Podados os galhos, ela chegou á minha casa. Ela me acompanhou por anos, até que um dia vendemos a casa e minha árvore de prata foi jogada no lixo. Não entenderam que ter uma árvore de prata é raro. Eu a tive por muitos anos.
      Um beijo carinhoso, Marly