Sobre o meu tempo e o teu café

Oi, darling. Sei que é tarde e que teus olhos estão cerrados num sono profundo mas eu precisava vir aqui te escrever. Sabe, hoje andei pensando na vida mais do que de costume, acho que é essa época de natal que faz a gente ficar assim, né?

Ando pensando muito no tempo e já não escrevo poesias sobre amor. Não pense besteira, é claro que carrego intrinsecamente o amor em mim, como lema de vida, e você sabe... Mas sei lá, o tempo anda me assustando. E veja bem, não confunda tempo com velhice porque não tenho medo de envelhecer. Acredito que a idade vem também com muitos benefícios. Digo o tempo como espaço mesmo, como prazos e limitações. Maldito relógio que puseram no meu pulso!

Tudo bem, eu sei que você vai dizer pra eu ficar calma que isso tudo vai passar mas é justamente esse o problema! Eu não quero que passe, não tão depressa como tem sido, entende?

Sei que te escrevi há uns dias atrás falando sobre novembro e sobre como andam as coisas no meu peito inseguro, e quis te escrever de novo agora em dezembro e, assim, de madrugada, porque não quero interferir nos teus sonhos. Mas de manhã, quando estiveres tomando o teu café com leite desnatado, não lê as tragédias do jornal... Lê essa minha carta e promete que vai passar o dia pensando a respeito do tempo, principalmente do tempo perdido e saudosista. Depois me diz se você concorda comigo, tá darling?

Porque eu acho que o tempo é que tá fazendo as coisas andarem depressa e algumas delas não têm destreza para acompanhar o ritmo. Imaginei o seu rosto agora desdenhando a minha frase com uma sobrancelha erguida e palavras secas dizendo 'e você acha que tem o ritmo pra isso?' Ah, darling, não seja ingênuo, existe compasso pra tudo nesse mundo, até o mais hábil dançarino pode errar o passo e é aí que eu me refiro, muitos não voltam a dançar.

É esse tempo, essa fração de segundo posterior ao erro, que muda tudo. Tem gente que não consegue mudar nem aprender com os erros. Também tenho medo disso, de ser uma dessas pessoas taciturnas que vão se transformando em pedras e ficando pesadas, mas acho que não...

A questão é que eu sempre digo que o tempo é assimétrico e os tolos insistem em fazer dele linear. Nascer, crescer, namorar, casar, procriar, morrer. Assim a gente encurta a vida, não acha? Tá faltando etapas nessa vida pré-estabelecida. Mas tudo bem, eu sei que você me acha louca por continuar escrevendo sem obter palavra alguma tua. Mas me faz bem dividir meu coração assim sem esperar nada em troca.

Agora termina teu café, sei que você tem pressa... Só pensa... Pensa no tempo, pensa que eu demorei horas pra te escrever tudo isso e você demorou minutos para ler, quem sabe sem a devida importância, e teu café nem esfriou.

06/12/10