Carta a uma amiga, em um Primeiro de Janeiro

Bom dia, dona Priscila. Muito bem! A senhora abriu o Novo Ano com chave de ouro, inaugurando a primeira linha dessa lista. E no seu discurso disse ao Velhinho que se fosse em paz, pois seu tempo se esgotara. Mas isso foi-lhe dito com muito carinho e gentileza, valorizando-o como assim era preciso. Nada de "rei morto, rei posto" que afinal, afinal, noblèsse éxige que se respeite os mais velhos e se os trate com carinho e bonomia. rs. E agora sim, despacho feito, nas boas loas se seguiu o acolhimento ao Novo que chegara. E que ele venha em paz trazendo a mala cheia de esperança e de promessas boas. E que pelo menos traga alguma coerência entre a ação e o discurso, pois que, cá entre nós, o velhinho que se foi, nisso, deixou muito a desejar em que pese dizerem o contrário tantas estatísticas mentirosas. O bom de ser um Ano é que um ano na perspectiva da História dura pouco e logo passa, de forma tal que toda a trapaça só aparece na casa dos vizinhos. E que nasça sem pirraça a nova princesa Isabel, pois que as sementes de uma nova escravidão foram lançadas. Escravidão diferente, de brancos, negros, índios, cafusos e mulatos, de euro-descendentes, de gente do sol-nascente, de árabes e de outros continentes, que aqui aportaram mais recentemente. Sem tronco e pelourinho, caracteriza-se pela não auto-sustentabilidade que leva um povo a depender de outros povos, por pura ignorância ou incompetência. E que na nova corte da princesa haja bons estadistas de linhagem e que não venham outros bufões em sua bagagem, pois todo o perigo reside nos trejeitos e nas gracinhas, denominados modernamente de carisma. Talvez seja necessário haver no futuro um outro Barão do Rio Branco que saiba negociar bem nossas fronteiras - a História, essa ingrata, nunca respeitou as linhas demarcatórias logo ditas imaginárias desde que toda a realidade das fronteiras se fundamenta na cultura de um povo e no poder que dela emana. Na abstrusa e simbólica realidade de um mundo que se diz globalizado, as pobres fronteiras, antes sagradas correntes no fluxo das águas divisórias, passam a ser invisíveis e potentes fluxos de moeda, a enriquecerem os povos que os dominam e a empobrecerem os povos que não se desenvolvem.

E aqui encerro, meio tantã (deve ter sido o foguetório de ontem à noite. rs.), com um tim-tim pelo Novo Ano e pelo seu "Viver e amar" que é muito bonito.

beijos.

Marco Bastos.