APENAS AMIGOS

Fala-me do código dos teus desejos,

das artimanhas que usas para a conquista.

Fala-me o que queres de mim,

conta-me do descompasso entre o definitivo

que anseio contrapondo ao seu descompromisso

com o duradouro de laços.

Fala-me dos teus laços desfeitos,

conta-me da tua parte, dos teus motivos.

Fala-me do impulso que te move,

conta-me o quanto a aventura é tua guia.

Fala-me da paz após o gozo e da tua pressa.

Conta-me que o gozo é teu farol, tua única

meta, nos teus encontros fugazes.

Conta-me que depois não voltarás.

Fala-me da tua transitoriedade,

Conta-me, em confissão auricular,

Que és um viajante de passagem,

que teu intuito é só ficar.

Conta-me, conta-me tudo, mas só depois

da descoberta do código do seu desejo,

da marca do seu fogo, da sede saciada.

Fala-me, não mais importa se a chama que te queima

é verdade ou mentira, miração ou ilusão.

Conta-me, mendigo faminto, agora já refeito,

Quando, no nirvana, após o êxtase da volúpia, encontra a calma.

Fala-me, conta-me, querido,

enquanto estamos vivos e pudermos ser apenas amigos.

23/10/2006