Hoje

Hoje eu não quero falar de você, darling. Hoje eu não quero lembrar de ontem nem de nenhuma palavra tua. Hoje eu vou, finalmente, abrir essa porta meio emperrada do meu coração.

Pára e pensa comigo... De que adiantou guardar tantos vestígios, tantos cheiros e lembranças, tantas angústias, tanta esperança... De que adiantou? Olha comigo pra todas essas caixas velhas, umas com o meu nome, outras com o teu. Você esqueceu-as aqui ou deixou-as de propósito pra ocupar um espaço qualquer, pra tentar não perder um lugar?

Tanto faz. Hoje eu criei coragem pra jogar fora sem nem olhar o que tem dentro. Se eu não precisei disso até hoje é porque já aprendi a viver sem. Hoje eu to jogando tudo fora, todo o lixo que juntei achando que era tesouro. Rainha da sucata é o que eu me tornei. Olha as minhas jóias penduradas nas orelhas, nos dedos, no pescoço, todas feitas de ouro. Pirita.

E o que me irrita é pensar, e ver, que acreditei em ilusões e achei mesmo que eu ocupava o lugar de rainha no teu coração. Agora percebo que nunca fui nem tua princesa, você se lembra? Eu lembro. E a partir de hoje tudo que me remete a você vai ser apenas lembrança.

Ontem você me matou. Hoje eu te sepultei.

03/02/11