Sobre o amor e a amizade

* Começou como quase todas as histórias de amor. Antes de uma apresentação somos todos desconhecidos, mas basta uma ou duas palavras de introdução e um ou dois dias de convivência. Aí deixa de ser novidade e passa a ser mais um no nosso vasto repertório de conhecidos.

* Conhecer é simplesmente ter ciência. E não bastava estar ciente de outra existência. As vezes é preciso algo mais. As vezes quer ter ciência dos pensamentos, dos humores, de toda uma personalidade. Isso é perigoso. É assim que rostos belos perdem o brilho, corpos bonitos deixam de ter graça e sorrisos lindos não nos encantam. Quando passamos a saber como uma pessoa é no seu interior isso afeta toda a visão de seu exterior.

* Nós fomos assim. Não nos contentamos com meras apresentações e sorrisos. Tínhamos vontade e curiosidade de algo a mais. Tínhamos força para nos arriscar em se decepcionar com estereótipos. Sentamos um ao lado do outro e nos colocamos a conversar de tal maneira reveladora. Vai ver no exterior já havia toda uma atração, sentíamos que era necessário descobrir se isso se repetiria nas idéias da mente e do coração.

* Foi muito engraçado. Tínhamos diversos pontos em comuns e as semelhanças nos assustaram. As crenças de como levar a vida eram quase idênticas, parecia que haviam sido confabuladas lá – naquele banco.

* Então deixávamos de lado o termo conhecido e nos apegávamos a palavra amigos. Realmente era isso que eu sentia. Uma energia amiga ao estar ao seu lado, muito boa, muito cativante, plenamente sincera. Essa energia era tudo. Não havia percebido que teu sorriso me sorria com outras intenções e que tuas idéias davam outras dimensões para nossas descobertas. Minha definição de amigo não chegava nem sequer perto daquilo com que você me definiu.

* Depois de dias e semanas boas com brincadeiras, sorrisos e confidências eu descobri. Na verdade você teve força de vontade o suficiente e me revelou. Disse o quanto gostava de mim e como aquilo poderia ser bonito, como poderia dar certo. Eu hesitei por tanto tempo. Hesitei pelo medo racional de perdermos a graça da amizade, a inocência nas palavras. Hesitei porque não queria deixar algo tão puro se tornar em ciúme, em loucura, em possessão.

* Ainda assim, falou comigo com tamanho carinho que me convenceu. Resolvi tentar. Resolvi aderir de sua força de vontade e torná-la um pouco minha. Não havia cobranças ou pressão. Iríamos com muita calma. E a principio foi realmente bom. Eu não tinha do que reclamar. Estávamos juntos ao selar os lábios mas livres ao rir como amigos.

* Não sei em que dia as coisas foram ficando complicadas. Você agora me dizia coisas incômodas. Ah sim! Me incomodava de tal maneira... E eu já não tinha forças para rebater tuas reclamações. E você já não tinha forças para mudar minha opinião. Éramos dois oponentes derrotados. Eu não recuperei a amizade que tanto prezava e você não conquistou o amor que desejava.

* Minhas previsões se cumpriram. As palavras já não eram nada inocentes, tudo maculado, uma amizade pura arruinada por um amor descontente. Acabou como todas as histórias de amor e amizade, você vai querer o primeiro, vai querer o segundo ou será forte o bastante e lutar pelos dois. Faltou-nos ou simplesmente acabou toda aquela força de vontade, e essa energia era tudo.

Priscila Silvério
Enviado por Priscila Silvério em 07/02/2011
Reeditado em 23/09/2011
Código do texto: T2777538
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