Desabafo

Acordei angustiada. Durante um bom tempo fiz uma análise do que tenho dito e escrito para ti... e acho que devo esclarecer alguns pontos.
Te amo? Fato concreto. Um amor que ficou adormecido durante todos esses anos. Adormecido e não esquecido. Latente. Sempre lembrado, mas colocado na gaveta das coisas impossíveis.
Não me amas? Fato concreto. Um carinho especial, apenas, pelas lembranças de uma infância feliz. Sempre lembrado, mas colocado na gaveta das coisas ultrapassadas.
Ao te reencontrar pude colocar em palavras e gestos todo esse amor que ficou guardado. Não sei te dizer se isso foi bom ou ruim. Hora acho que foi o melhor que me aconteceu... Hora acredito ser mais um sofrimento.
Eu seria hipócrita se te afirmasse não me importar de estar longe de ti. Eu seria masoquista se achasse que não espero nada em troca.
É natural que eu sonhe, queira, lute...
Leste com atenção? Eu escrevi "que eu sonhe". Ninguém pode impedir-me de sonhar...
Eu não vou deixar de dizer que te amo. Eu não vou deixar de ter ciúmes e inveja de quem está ao teu lado. Eu não vou deixar de sonhar. De querer. De pedir. Sou cheia de defeitos...
Só não vou te obrigar a nada. Não tenho esse poder. O que fizeres ou disseres não será "por mim". Será "por ti". Porque tu queres. Porque tu sonhas.
Então, não modifica nada na tua vida se não for da tua vontade. Não escreve ou telefona se não for o teu desejo.
Não faz nada que seja apenas por mim.
Eu tenho consciência que o meu amor é unilateral. E isso não é tua culpa... tua responsabilidade...
Se sou feliz? Sou.
Sabe por quê?
Porque eu conheço o amor.



Foto: Luís Lobo Henriques

Poema registrado no escritório de direitos autorais da Fundação Biblioteca Nacional/Rio de Janeiro/Brasil sob o nº 357.734