CARTA A UM AMOR ETERNO

Minha querida,

Depois de pouco mais de dois anos, reencontramo-nos de novo. Confesso que fiquei surpreso ao ser chamado por ti, principalmente, porque foste tu quem deixaste de me visitar neste período. De qualquer forma, a alegria foi, sem sombra de dúvidas, maior que a surpresa que tu me causaste ao dizer: “Olá, como vai?”, sem que eu tenha tido tempo para me preparar para isso. Quer dizer, descrever a alegria que essa pequena frase me causou é impossível. Mas, aquilo que não pode ser dito, descrito ou narrado pode ser – graças a Deus – sentido. E, apesar de ser muito pessoal, imagino que tu possas ter uma noção de como foi essa alegria.

Conversamos. Fomos, aos poucos, nos inteirando das coisas de cada um de nós. De minha parte, fiz de tudo para não remexer no baú das lembranças – fosse das coisas boas ou daquelas que fazemos questão de nunca lembrar –, mas, é claro e inevitável, com o passar do tempo, os assuntos foram, normalmente, se encaminhando para um lado mais pessoal, mais conhecido somente de nós dois.

Antes, porém, falaste um pouco de ti. Falaste, por exemplo, do teu encontro com Deus e de como essa experiência mudou, radicalmente, a tua vida a partir daí. Eu sei, minha querida, o quanto sofreste durante esses anos todos. Só uma mulher de fibra, como tu, para suportar os desígnios que te foram impostos, durante certo período de tua vida, e que, tenho certeza absoluta, continua a ser aquele trágico tempo o maior peso que a tua cruz pode carregar. Mas, Deus é sábio e escolhe o seu tempo para poder permitir-se entrar, de mansinho, na vida de quem Ele quer consolar e mostrar que a perda faz parte da vida humana – apesar de que nunca a aceitamos como tal –, sobretudo, quando ela se dá na ordem inversa das coisas e, especialmente, quando ela se dá de uma forma tão brutal, inconsequente, estúpida, absurda e irracional como foi o episódio acontecido na tua vida.

Por isso, saber de ti que aquela pessoa amarga, descrente e cheia de rancor não existe mais, só aumentou a minha satisfação em estar sabendo mais sobre ti. E deu para notar tudo isso na maneira como tu foste me dizendo das coisas importantes para que isso acontecesse, da maneira como tu tentaste até a me aconselhar, da forma como tu buscaste me mostrar o caminho através de citações da Bíblia; enfim, todos esses pequenos detalhes, essas nuanças, elas foram me indicando que ali, do outro lado, existia uma nova pessoa, renascida das cinzas feito a Fênix ou, melhor, uma mulher feita em barro novo pelas mãos do maior dos oleiros que se fez carne e habitou entre nós.

Adorei saber sobre a tua vida atual que, além do trabalho – que era o que te mantinha viva –, tu voltaste a ter uma vida social também. Alegrou-me saber de tuas excursões para conhecer novos lugares, novas culturas e, de certa forma, adquirir mais conhecimentos, vivenciar mais experiências pessoais e de até tentar encontrar respostas para algumas coisas que te aconteceram. Porém, a parte que mais me deixou feliz foi saber que voltaste a estudar, a fazer uma nova faculdade. Não me disseste de que, mas te conhecendo – o pouco que eu te conheço – com certeza, está sendo na área de exatas.

Aliás, essa tua dialética, muitas vezes, nos causou problemas. Eu, que sempre fui mais emocional, bati sempre de frente com a tua racionalidade aflorada que não me permitia concatenar ideias que não fossem de fundo lógico. Humanamente impossível – para mim –, principalmente, por querer te mostrar que a vida pode ser vista pelo lado romântico e prazeroso dos versos, bem como trilhando-se caminhos que, até a se chegar a dizer “eu te amo”, requerem um profundo sentido de abstração, pois eles vêm permeados de lindos sonhos e fantasias.

Talvez por não termos pensamentos em comum, foi que as nossas conversas não puderam ter um lastro tão proveitoso – do ponto de vista do galanteio –, inclusive, elas foram, neste sentido, acanhadas, longe de terem sido o foco principal de nossos raros encontros. Mas, não tem nada não. Os poucos diálogos que tivemos serviram para enraizar essa amizade, que se perpetua, e que, tenho certeza, independeram de qualquer noção de racionalidade ou “emocionalidade” existente na formação de cada criatura humana. Acredito ter sido melhor assim, visto que, do ponto de vista do amor, ele só acontece – entre as duas partes – quando se dá a junção entre corpo e alma. Infelizmente, no nosso caso, houve apenas uma admiração da matéria – de tua parte –, excluindo-se, aí, a paixão pela alma, que é a dona do sentimento. Não teve como, mesmo que tu quisesses, haver nada mais do que amizade entre nós. Foi melhor assim. Não gostaria de saber, depois, que tu assumiste um compromisso apenas para não perder uma amizade, mas que, na verdade, aquela pessoa, que tu honraste com os seus sentimentos, em nenhum momento te fez tremer de desejo, nem nunca te causou arrepiamentos e, menos ainda, nunca te fez perder a racionalidade todas as vezes em que estiveram juntos. Seria, para ti, um eterno sacrifício. Eterno, porque eu sei que tu suportarias viver, intensamente, essa relação somente para não teres que magoar a quem tanto te quer bem.

É isso, minha querida. Não tem um mal que não traga um bem. Alegra-me, portanto, saber-te bem. Alegra-me saber que tu voltaste a ser feliz, esbanjando sorrisos e cativando amizades para junto de ti. Uma coisa eu posso te dizer: feliz daquele que tem/tiver o privilégio de te conhecer.

Foi um prazer imenso. Deus te ilumine sempre. Deus te dê, cada vez mais, o dom de perceber, nas pequenas coisas, o prazer de ser amada por Ele.

E o resto? O tempo, mais uma vez, nos fará perceber e, quem sabe, esquecer...

Um abraço forte,
Teu amigo.

 

Obs.: 01 - Carta do jovem Pedro (mostrada a mim - e autorizada a publicação) ao reencontrar o amor de sua vida (não correspondido) depois de dois anos, retratado aqui, numa crônica chamada "Quando o Amor não é correspondido".




Obs.: 02 - Imagem da internet



Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 20/02/2011
Reeditado em 04/02/2012
Código do texto: T2803616
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