Por onde você anda?

“Eu que sou seu sorriso mais antigo, sou seu mais velho amigo e na minha vida, me escondo dos seus perigos!”

A morte trágica te levou pra dentro dos meus sonhos, o silêncio.

As lembranças são nítidas, porém entrelaçadas em vários momentos que, por diversos sentimentos e situações vivemos.

A última vez em que ouvi a sua voz, algo cristalizou a magia “É tão reconfortante ouvir sua voz!” Falei espontaneamente, sem ter a consciência que seria a ultima vez que falaria pra ti. Mas algo continua inquietante e me atrevo a escrever-te essa carta 'póstuma', não pra dizer ou desabafar, mas pra dá vida àquilo que todos supõem inerte: sentimento.

Cada dia não sei se vivo, mas presencio o tempo. E o que nos separa não é físico, não é espaço. É tempo. Habitamos o mesmo espaço em tempos diferentes, algum de nós “caiu pro futuro”, e não estou certa que tenha sido você. Fico com uma incógnita a cumprir; presa na individualidade egoísta deste mundo. Vou ao bar que você freqüentou, estou no futuro e te sinto encruado nos azulejos, nas mesas, no cheiro do ambiente. Com toda certeza que mesmo em tempos diferentes, estamos sintonizados na música e no pensamento. Eu ouço, você sente. Eu sinto, você sabe. Eu sei; você estranha. Eu estranha, mundo louco. Nós loucos.

Quando sinto extrema necessidade de te encontrar, procuro dormir à tarde. Lá sempre nos encontramos e ao acordar, ainda que me sentindo um pouco melhor, sei que o tempo nos afastou novamente e não tenho lembrança inteira sobre as respostas das mil perguntas que te faço sempre. Esta bem? O lugar é bonito? Te tratam bem? Tem pessoas legais? Não sendo corpo, é necessário comer? Por que não me aparece? Tantas perguntas... você as vezes sorri, entendendo a minha necessidade de investigar, de te amar. Tento algo acordada, vou a praia que tanto nos abrigou e ufa! Que alívio... o mar, o vento, a lua... lá está você em todos os lugares, mas em silêncio. Espreitando a noite como o felino que vias em mim. As coisas mudaram... sempre mudam, não é?

Em algum tempo, enquanto dormia pela tarde, me falaste que aceitou completamente a morte, mas o que significa isso? Você era espírita e acreditava que desencarnado, voltaria a encarnar em outro corpo, outra história. Por divergência de crença, discutíamos. Mas respeitando que cada um vive (na morte também) aquilo que acredita, então, tendo aceitado, estás maduro pra voltar em outro corpo? Não fico feliz... devia me esperar por ai. Tenho tanto pra contar! Queria tanto ouvir tua voz novamente pra reconfortar-me! Ah! Rodrigo... tanto me acusou de ser fria e indiferente, e eu agora, com toda sensibilidade e tristeza, derretendo de sofrimento e de saudade. Tanto mais que todos.

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Shauara David
Enviado por Shauara David em 21/02/2011
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