Leitura labial

Teus lábios não ousam confirmar as lembranças, que maldosamente insisto em te recordar, como se fossem uma enxurrada levando de roldão o que encontra pela frente. Eu frente a frente, num tom de voz o mais doce possível, digo todas aquelas coisas amargas que julgavas apagadas definitivamente de minhas maldades. Teus olhos com um brilho estranho, estranhamente esquecidos do ato de piscar, fixados nos movimentos de meus lábios, provavelmente, querendo apagar dos ouvidos o som, detendo-se numa leitura de lábios errada e inventiva onde só coisas boas pudessem ser entendidas! Buscas fugir, dando-me uma idéia de que precisas beber um copo de água fresca, tal qual Judas Fawley num dia de carnaval, pouco antes de expirar! Ou quem sabe, fugir para muito longe, deixando-me à mercê da virulência disfarçada de minhas próprias palavras?