Dourada

Tê-la em minha vida, sentí-la em meu corpo é a redenção dos meus pecados. Das travessias pelos desertos onde a saudade que eu sentia de encontrá-la, sem tê-la conhecido, era a dor que me fazia cruel.

Tocar sua pele, procurar as cicatrizes, entender os arrepios, brincar com o dourado dos pêlos das coxas e reviver todos os momentos passados, reviver todas as dores e alegrias e tê-la na ponta dos dedos como a afirmar, como a misturar as digitais de pele, parar a vida nesse momento, quebrar os relógios do tempo e saber que é nesse instante, nessa hora que a vida é verdadeira. Derramar palavras loucas e sabê-las saídas do coração, ter na memória passagens de viagens, de muitas eras, de muitas estrelas, de muitos tempos, de uma fêmea e seu macho, de uma mulher e seu homem, de seres que viveram sonhos e paixões em todas as eras, em todas as pontes de seus destinos e se encontram nessa vida para resgatar a história do tempo.

Entender o brilho dos seus olhos, ver a bondade neles e a aceitação das dores. Naufragar e ser salvo. Entender o gemido da sua boca, pelo prazer do momento e dos muitos tempos de solidão. Entender a voz em sua rouquidão de tantos gritos não ouvidos. Entender a força da paixão, do amor, que mesmo em todas as desvalidas tentativas de ser feliz, de todos os nãos, de todos os erros e perdas, não se submeteu e ainda tem braços abertos.

Poder abraçá-la, poder sentir o cheiro, o calor do corpo, o gosto da boca. Estar no brilho do sorriso, reconhecer a mulher única, dar o mérito e seu valor e me entregar e não querer estar em nenhum outro lugar senão ali, dentro dos braços que abraçam pelos tempos de eternidade.

Sentir o prazer que não esgota o corpo e sim eleva a alma. O prazer que é partilhado e trocado e finalmente compreender que ser seu é o único porto, o único caminho, a única viagem, a única escala, a única e derradeira maneira de ser feliz.

RRenee
Enviado por RRenee em 13/11/2006
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