CARTAS AO LEO

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O Coveiro Corcunda

Até que enfim consigo te escrever, meu amigo,

O episódio para o qual peço espaço, nesta carta, foge um pouco do comum, mas eu "num guentei"  e resolvi enviá-lo. Lá vai:

Corre por aqui, que o coveiro de nosso cemitério era corcunda e que a perdeu em um fato notável. Ele estava limpando um dos túmulos da residência dos mortos, quando um fio de luz intenso formou-se por cima da cova que ele limpava. O coveiro, assustado, fez menção de correr.

— Não corra... Eu não vou te fazer mal – diz uma voz que começou a materializar-se à sua frente.

E ele pergunta com a voz tremula:

— Quem é você?

— Eu sou o espírito do morto desse túmulo que está limpando. Você tem amigos?

— Não! Responde o coveiro.

— Tem dinheiro guardado?

— Não!

— Tem família?

— Também não!

— Então me dá essa corcunda!

Dito isso, o espírito materializado, desmaterializou-se e desapareceu no ar.

Bêbado de felicidade, o coveiro sai contando para todo mundo o ocorrido. Um amigo paraplégico tomou conhecimento do fato e resolveu tentar a mesma sorte do coveiro. De maneira que, passa a depositar regularmente flores no túmulo milagroso.

Um dia, ao depositar um ramalhete, ouve a mesma voz.

— Que é você? Pergunta o paraplégico.

— Sou o espírito do... Você tem amigos?

— Não! Respondeu o cadeirante, felicíssimo.

— Você tem dinheiro guardado?

— Não!

— Tem família?

— Não tenho, não!

— Então, toma essa corcunda!

Pois é, Leo, milagre não acontece duas vezes no mesmo lugar. Nosso amigo, além de paraplégico, passou a ser corcunda também. Salve-se quem puder!

Aguardo notícias tuas.

Ricardo Sérgio.

Inté!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 15/04/2011
Código do texto: T2911501