SEGUNDA CARTA DE PAPAI MARCELO À ANA JULIA
 
 
  
Vida é meu tema central. A vida feliz é uma busca utópica do ser humano. Haveria de ser monótona tal vida, a vida constantemente feliz. Permeia-se de momentos felizes; preenche-se de boas saudades e lembranças; promovem-se pedaços, frações e punhados desse estado mágico de espírito, porém acredite: a vida não é felicidade o tempo todo para ninguém, infelizmente. Mas isso não é o fim, pelo contrário, é a chance que temos para dispensar um rumo à nossa existência, é a oportunidade que aparece para termos com o que nos ocupar em nossa rápida passagem, é a alavanca que nos levanta do ostracismo, da inércia e nos posiciona nesse mundo.
   Perceberás que apesar disso tudo conscientizado em mim, parte por minha vivência, parte pelos exemplos biográficos, chego sempre à beira do pessimismo. Meu realismo é pessimista, fazer o que? O grande problema que pactuo é minha acuidade psicológica desenvolvida em meu contato constante com os da minha espécie. A desilusão só existe se antes houver a ilusão. Frequentei alguns desertos e me acostumei com miragens. Observei mundos alheios, concatenei-me “harmoniosamente” com ambientes contrários ao meu jeito perquiridor, perscrutador e isso anulou-me gravemente. Como se eu tivesse me treinado à uma vida que não sendo a minha, pudesse assim ausentar-me de uma existência conflituosa e conturbada, como é a silhueta dessa inusitada conservação.
   Pois bem, quando resolvi conviver plenamente comigo, como as árvores que trazem em seus caules ou como as baleias que trazem em sua pele, toda a sua história, trouxe assim à tona o esgotamento precoce do convívio externo e hoje hesito, talvez insensatamente, em confiar ou acreditar em alguém ou algo que seja. Tornou-se complicado para mim. Mas quero chegar a algum lugar e serei conciso: a lei da moderação! Sem dúvida, esteja certa disso, é no controle entre o excesso e a escassez, entre o muito e o pouco, que aparecem os bons momentos, as boas experiências e consequentemente as boas lembranças e saudades. Os acertos e um firme alicerce surgem da moderação. Nunca viver a vida dos outros, como de igual, nunca viver somente a sua vida. Haverá que vigiar o fiel da balança constantemente e moderar-se entre esses dois opostos, o resto será “conseqüencial”.
   Crescer é dolorido, gosto dessa frase. Uma outra “dica”, como se fizesse desse texto um manual de sobrevivência: O melhor jeito de aprender é ensinando! Faça como eu!
 
Marcelo Braga
Enviado por Marcelo Braga em 16/05/2011
Código do texto: T2972861
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