Meu sirroco:


          Não quisestes me ter, como, se nem eu mesma me quis...
          Não tecestes um manto para o frio que fatalmente me acometeria com tua ausência, nem ao menos olhastes para trás. Seguistes mudo, frio... Não sentistes a visão de minha alma sangrando, desordenada, desorientada...pouco ou nada te doeu. Não emitistes nenhum som, não vertertes nenhuma lágrima, por mínima que fosse e nem pronunciastes  um adeus.
         Apenas te fostes, como um fogo-fátuo, ou uma chuva passageira, mas que afoga pessoas, sentimentos e vidas. Tua mão, antes tão presente, desalinhou-se da minha, teu coração, do meu, meu corpo, do teu.
         Impossível te esquecer...como se deixastes como herança uma marca ferrada em meu corpo, lembrando eternamente que um dia me amastes...
        Como aceitar, como não sofrer, se não me ensinastes como deveria agir numa tragédia de tamanha dimensão...
        Mas, teus passos foram se alongando, se calando e aos poucos, nada mais se ouvia, nem teus passos, nem tua voz, nem a minha.
        Um vácuo enorme então se fez. Instalou-se em mim. Agora, já nem sei se sou, ou apenas minha sombra. Não sinto o batucar de meu coração, nem escuto meus próprios lamentos. O límpido cristal que habitava meus olhos, tornou-se opaco. Meus passos, já não passos, asas. Meu ser sem ser, declinou da vida e partiu sem mim. Restou o resto da réstia do que foi, restou apenas o resto que deixastes, a sombra do ser em vida, a dor de se saber sem corpo, apenas alma...Talvez nem ela.

       Eternamente tua, poetinha de beira de estrada.