Uma pessoa estranha

Esta pessoa teve uma maldição de família, isto desde o início de namoro e casamento de meu pai e de minha mãe. O meu pai era bonito e galanteador, e, exatamente por isso arrumou problemas sérios com coisas que não se devem explicar. Mas logo ele vai receber um abraço forte. Juntamente com minha mãe. Não vai ser tão distante assim. O tempo voa. Alguns dias antes do dia marcado para falecer, ele, a bem dizer, fez um pedido especial: pôs um menino de seis anos em sua frente,

que nem se parecia com ele e disse: "_Este menino é especial para mim, cuidem bem dele por mim!".

O menino passou a receber sua aposentadoria. A viagem dele continua ainda, logo tem chegada. Eita maldição de família: O avô, depois o pai, depois o irmão, depois até o menino!

A vida é um grande dominó em sequência: uma coisa leva a outra.

A mãe devia supor e saber com certeza da maldição. Em vez de recorrer ao poder Supremo do Soberano, que enfim, ela nem conhecia, recorreu errado, por desespero talvez, por ser mãe, por um descuido ou falta de fé. Aí o menino passou a ser diferente. Além da maldição do pai, teve a maldição da mãe. Mesmo que os dois amassem o menino, e tivessem sinceridade total e absoluta em ajudar. Disso ninguém duvide. O menino passou por várias coisas estranhas na vida, a vida toda até hoje. Não vai dar tempo de contar tudo hoje, mas aqui vai ficar um pouco.

A inteligência do menino parecia normal. Mas talvez ninguém notasse nuanças ou mudanças de personalidade, porque com criança, as alterações são comuns, e isso não gera nenhuma preocupação. Mas o que haveria com o menino com estas mutações depois de adolescente ou posteriormente? Já não seria tão normal.

O menino tinha uma família amorosa, creio que o pedido do pai foi aceito duplamente. Não só pelo pedido como também pela afeição natural. A criança era calma em geral. Não era de reclamar de nada quase. Sentia-se feliz. Criança em geral é feliz mesmo. Como todos na família eram bem pobres, mas esforçados, todos foram trabalhar, e o menino com sete anos ia na escola sozinho, se aprontava sozinho, almoçava na Dona Clara, que fritava ovos deliciosos. E ficava esperando pela mãe até 22 horas, quando ela chegava da fábrica de costura. A irmã chegava bem mais tarde do colégio, que estudava depois do trabalho. O irmão trabalhava com móveis, carregando-os, e à noite namorava ou passeava.

Embora o menino jamais provocasse alguém, sempre vinham pessoas querendo brigar com ele. Apanhava, pois na saída da escola, levando alguns socos, nada tão sério. Depois chamava o Hércules, seu irmão, e desforrava, nada deixava barato. E, com o tempo, ninguém mais ousava mexer com o menino: seu irmão era violento. Ah! O próprio menino já tinha levado alguma surra também, mas o irmão era amigo, tinha um orgulho especial por alguma razão que o menino desconhece a vida inteira.

Com a pré-adolescência, o menino pulou de mergulhão de um morro, de mergulhão. Isso nem ele sabe explicar ao certo o que houve, e o irmão dele que veio em ajuda, que jogava futebol ali perto. Só quebrou os dois braços, e uns machucados no rosto e um irmão falando um monte de coisa de modo nervoso. O menino sangrava por tudo quanto é parte, pelo nariz, pela boca, pelos braços, enfim. A camisa branca do irmão ficou rubra. O menino foi andando calado pelas ruas até sua casa e enxugando o sangue que jorrava. Foi das poucas vezes que quebrou alguma coisa em si.

Com 11 anos em diante, muitas meninas começaram a paquerar o menino, ele nem dava conta, isso por muitas razões. Era bonitinho. Tinha outros até mais bonitos. Mas o menino era simpático. Tinha um irmão que também era um Don Juan. Tinha irmãs queridas, e bonitas, e esforçadas. Que algumas vezes o levavam a festas de finais de ano, onde as meninas brigavam pelo menino literalmente. Em cada rua sempre tinha duas ou três que gostavam do menino. Ele acostumou ser paparicado, depois perdeu isso tudo com mudanças físicas ou daquelas de personalidade mencionada.

Mais ou menos o menino teve umas trinta namoradas, que não duravam muito mais que umas duas semanas, eram coisas de moleque, sem responsabilidade. Os amigos que antes eram maus, muitos se tornaram admiradores do menino: ele tinha ideias geniais demais. Tudo era novo a cada hora. Ele se tornou o chefe de um grupo chamado WAR. E ele era chamado de Warsterman. Lembro que nomeei alguns: Waster, um amigo até hoje, embora faz tempo que ele não o vê, hiper-inteligente e fortíssimo de várias maneiras, que casou com uma ex-paquera do seu "cacique". Tinha o Sperman. Este era o verdadeiro super garanhão das mocinhas no bairro, mas tanto o menino-adolescente em questão como o Waster não ficavam quase nada para trás. Veja cada nome ridículo. Bem americanizado próprio da personalidade do menino, mas ainda eram coisas comuns. Eles admiravam que ele adivinhava até o pensamento deles. Isso era diferente, porque ou eles mentiam que ele fazia isto mesmo ou era de ser tão super-psicólogo, que bastava observar alguns detalhes e já sabia o que havia na mente de cada um. Até o que eles escreviam era dito exatamente. Eles ficavam pasmados o tempo todo. Além disso, eu tinha sonhos. Nos sonhos vinha um Einstein, só depois que vi a foto dele. Mas não era o Einstein. Ele me explicava coisas espaciais, coisas científicas, leis da física nuclear, leis da natureza, psicologia, bastava eu querer saber, ele tinha uma enciclopédia nos sonhos toda madrugada. Aí eu percebi que havia algo errado com o menino.

Com 14 anos em diante o menino passou a ter prolapso na mitral. Mesmo assim, sendo forte o prolapso, que normalmente não causa tanto transtorno, o menino era super veloz, e talvez de tanto se esforçar em ter velocidade alta, dificilmente perdia, ou seria mesmo congênito ou não. Mas é que o menino desacelerou a parte física, e aprofundou no seu dom maior: a ultra-inteligência. Ele comandava seus amigos, programava, mas nunca foi absolutista, sempre aceitou sugestões e de tão respeitado, os amigos jamais o abandonavam. Se o menino dissesse qualquer atividade absurda, se pedisse para eles se matarem, por exemplo, eles fariam isso. Por que quase fizeram isso, com um teste que ele fez. Mas os outros não tinham tanta coragem assim. Lembro de um salto de uma profundidade de uns 3 metros, e uma largura de uns 5 metros que o menino propôs a um deles. O outro disse, se você saltar, e conseguir eu faço isto em seguida. Pois o menino conseguiu, o que fez o outro, do outro lado da margem, ficar perplexo e mostrar covardia e bom senso juntamente.

O menino fez um acordo de sangue com o grupo:

todos eram irmãos. Estranho como pareça, os pais dos outros amigos amavam o menino, achando uma ótima influência para eles. O menino chamava as pessoas mais velhas de senhor e de senhora. O menino era cortês. O menino se vestia bem e sempre arrumado e limpo. Tinha bom porte. Ele conversava com pessoas de qualquer idade.

Com 15 anos em diante passou a estudar contabilidade, numa escola municipal. Nunca estudava nada em casa e tirava notas boas. Tanto era bom em qualquer matéria, e o que a turma achava mais difícil era a tal matemática financeira, com juros compostos e outras coisas. No bimestre havia duas provas. Cada uma valia 5 pontos. Quem tirasse 5 em cada uma ficava com 10 no bimestre. A nota média era 6. Bom, o menino tirou 5 na primeira, foi o único. Assim, chamou a atenção de um que estava em apuros em matemática, que combinaram trocar de prova, isto é, na segunda, pois bastava eu tirar 1 ponto para ter a média. Fez isto. Mas o menino era perfeccionista, teve de rever bem a prova, e imitar a letra do outro, o que perdeu tempo. Em sua prova, que faltavam apenas alguns minutos, fez metade de uma questão, e tirou 0,5. Isto é: colheu pesado a trapaça em ajudar outro. Iria ficar com reprova. A média era 6. Mas a professora notou a diferença e percebeu o que houve. E disse o seguinte na outra aula: Vou dar uma prova valendo apenas 0,5 pontos. Mas tem que tirar 10 para valer 0,5. Bom, claro que o menino tirou os 10. E não ficou com reprova. Este é um episódio para falar da vida escolar.

Continua. Essas coisas são comuns ainda. Nada vou falar de bombástico.

Mas creia, quero encontrar alguém igual.

Wanderson Benedito Ribeiro
Enviado por Wanderson Benedito Ribeiro em 27/05/2011
Reeditado em 03/11/2013
Código do texto: T2997839
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