ERRARE HUMANUM EST

“Olá!

Gostei do seu poeminha*. Achei-lhe até muita graça.

É pena que o primeiro verso contenha um erro de portuguès. Erro,

aliás, comum a muito boa gente, até já encontrei esse erro no próprio

Alexandre Herculano..(deve ter sido sem querer - ou, então foi erro de

imprensa).

Trata-se da palavra "personagem" que, em português, é do género

feminino. E depois repete o mesmo erro no 7º verso e também no

último...

Deve dizer-se "minha personagem" e não "meu". Pode verificar num bom dicionário da língua portuguesa, como p.exemplo o da Porto Editora.

A regra é esta: Todas as palavras terminadas em "-agem" são femininas (com a única excepção da palavra "pagem", que é masculina - mas esta porque a referida terminação faz parte do radical, não é um sufixo).

Assim sendo teremos: abordagem, amostragem, aragem, camaradagem, coragem, dobragem, dosagem, filtragem, garagem, jardinagem, ladroagem, malandragem, mensagem, paragem, patinagem, portagem, sabotagem, viagem, etc. e, é claro, personagem.

A confusão vem do facto de todas estas palavras no francês serem do

género masculino, p.ex. le courage, le voyage, le portage, etc

Bem, mas esta objecção não tira valor ao poema.

Um abraço

Carlos Domingos”

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(*) O poeta, político e homem de letras português, Carlos Domingos,

faz referência ao rondel PERSONAGEM DO DIA, aqui postado, ontem.

* * *

ERRARE HUMANUM EST

Fortaleza, 13 de junho de 2011.

Boa tarde, caro Carlos Domingos!

Fico muito contente que lhe tenha recebido um puxão de orelha, rsss.

Suas observações revelam enorme erudição e verticalidade no conhecimento do idioma pátrio.

Somente tenho que agradecer pela gentileza da sua correção e demais

pontos de vista linguísticos.

No Brasil, contudo, o termo "personagem" aceita os dois gêneros, e a

prova disto está nos nossos dois mais conceituados dicionaristas: Aurélio Buarque de Holanda e Antônio Houaiss.

Aceito de bom grado o seu douto parecer, porém vou ficar com a "regra 2" do idioma que temos como empréstimo; não por teimosia, apenas por um imperativo da metrificação dos versos. Ora, se o próprio Herculano teve escorrego na escrita, iria eu contestá-lo?

Com muita sinceridade, até acho mais sonora a opção pelo gênero feminino, no caso da referida palavra.

Veja o senhor como o "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa", aí, em Portugal, e aqui, no Brasil, lançado com tanto alarde, longe ainda se encontra de elucidar todas as divergências idiomáticas entre os diversos países de língua lusitana. Pois o VOLP também aceita os dois gêneros.

Outra divergência, também, assinalada pelo senhor: PAGEM, em seu país, com o "g", porém, no Brasil, os nossos lexicógrafos marcam-na com um reto e inteirinho "j".

Imensamente agradecido, não pelo elogio ao teor do rondel, mas muito, bastante grato lhe fico pelas suas mui bem fundamentadas linhas.

Um abraço muito cordial e fraterno, liame necessário entre os povos

d'aquém e d'além mar, na perspectiva de um mundo menos egoísta e

mais solidário.

João Gomes da Silveira

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P. S.: Em respeito aos leitores do “Recanto das Letras”, que devem

também notar o nosso – meu – "lapso", com a sua permissão, irei

postar as duas correspondências. Assim, teremos, cá, de fazermos

um hercúleo esforço no sentido de, ao menos, nos aproximemos do

idioma de Camões.

Fort., 13/06/2011.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 13/06/2011
Código do texto: T3032022
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