Encontro amigo

Querido amigo,

Obrigada pela noite agradável. Pena que eu não estivesse lá tão bem "dans ma peau". Não só pela enxaqueca que estava se instalando aos poucos, como também pela minha "viuvez" forçada que, às vezes, toca os meus instantes e me deixa elocubrativa.

Como você, músicas nessa minha fase me reportam a um passado que não justifica o que estou passando no presente. Para tanto, não há Renée Descartes que possa decifrar o por quê desse acontecimento na minha família. Ainda a pouco, enviei um email para um amigo americano de longas datas, descrevendo que eu me encontrava na fase de muitas indagações entre o que fomos e o que deveríamos ser. Passamos por décadas convivendo de maneira harmoniosa com alguém. Procura-se flanar por sobre os baques e percalços para seguir uma linha de comportamento que se acreditava estar dando certo. De repente, recebe-se como impacto uma rasteira tão bem dada que nos deixa claudicantes para tentar seguir a mesma trilha...

Neste exato momento não tenho procurado desviar das "pedras no meio do caminho" como tão bem descreve Carlos Drumond, pois "quero juntá-las e delas fazer o meu castelo" como complementa a meu favor o poeta Fernando Pessoa. Quiçá um dia esse Castelo poderá me trazer a lucidez plena de que agi certo e não fui vítima de minha credulidade. Assim farei dele a eterna morada de minha consciência e me darei o direito de estar em paz com a elucidação de minhas dúvidas.

Enfim, senti vontade de escrever e descortinar um pouco a minha alma a um amigo que tem um vasto caminho percorrido pelas aleias de seus sentimentos aflorados na busca eterna do amor. Combustível intermitente para dar continuidade à sua razão de viver. O que mais desejar a um amigo eleito instantaneamente? Que essa busca seja um alimento para os seus sonhos e que você possa, verdadeiramente, encontrar um amor que venha ao encontro dos seus desejos e que possa lhe aportar a felicidade na sua plenitude.

De minha parte, estou me apoiando muito mais nas amizades do que naquele amor-instrumento que nos enleva sobre todas as mágoas e nos transporta à sublimação da nossa própria existência. Enfim, um verdadeiro amor que venha a me (re) compensar de cada década vivida sob a ilusão de que felicidade plena fora verdade. Considero-me uma pessoa tão especial nos meus sentimentos que viro ao revés um dito tão conhecido entre nós: "Eu era infeliz e não sabia"...pois me ahava muito feliz talvez por me proteger sob uma redoma que só refletia a luz que queria emitir e não percebia que a refração desses raios eram cumulativos contra o meu próprio eu.

Assim, cerco-me de amigos, não na busca do ombro amigo, mas na certeza de que as minhas pedras lhes sirvam também um dia para a construção dos seus próprios castelos.

Da amiga de sempre.

Eliane Thompson
Enviado por Eliane Thompson em 14/06/2011
Reeditado em 14/06/2011
Código do texto: T3034787
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