CARTA AOS MEUS

Tenho pra mim, que venho de um lugar distante e diferente. Tremendamente diferente deste lugar de agora. Deste lugar aqui.

Nem os lugares de outrora tem sequer o cheiro do lugar de onde vim.

Fantasio os meus saberes, sabendo que não são meus. Ajo e reajo exatamente como aqueles que também vieram do lugar de onde vim.

Este lugar de agora, este lugar aqui, é alimentado por desafetos e desamores. Caminhei na contra mão. E nos vãos desta vida de agora, depositei os dissabores mas os embrulhei com papel de cores. Todas as cores desenhadas lá, no lugar de onde eu vim. Um lugar colorido e de mil possibilidades. Não quero mais me fazer entender, não posso!

Porque os sentimentos, valores, energias que trouxe do lugar de onde vim, seguem na contra mão dos valores do lugar que habita minha frágil matéria. E por isso, sigo caminhando nas margens da vida, sabendo que nas margens existe uma linha tênue que me divide entre o agora e o depois. Mas como disse, não quero mais me fazer entender, não posso. Mas sigo amando aos meus, como quem ama uma sinfonia. Com o amor que perdura além da última nota da canção.

E quando a linha tênue se partir, restará o amor. Um amor colorido e de mil possibilidades...