CARA VIDA



Houve um tempo em que escrever-te ser-me-ia tão somente um exercício de pura “verborragia”, de inconseqüente proselitismo transcendental, de vaidade cognitiva ou mesmo de uma total falácia existencial.
 
O tempo passou ou eu passei pelo tempo, não sei ainda, o que sei é que envelheci vivendo cada instante presente e fui assim sendo contagiado pela sua plenitude e pela sua rara complexidade, que da química se fez biologia, alcançando após algum tempo uma complexidade neural que possibilitou a mente, daí o inconsciente, e mais ainda a frente o consciente, o que me permitiu não somente tomar ciência de sua beleza imanente, mas também interagir com seu quase mistério e supremo valor.
 
Agora, como um aprendiz do viver, louvo-te ó vida, como algo maravilhoso e arrebatador. Sobreviver parece fácil, mas viver em toda sua plenitude é muito difícil.
 
Muito obrigado vida, por permitires a este ser que hoje pode estar aqui pensando e escrevendo, experimentar todo seu poder, vindo de um nada que fui antes de existir e tendo como destino este mesmo nada quando daqui me for. Tu permitiste-me existir, crescer, aprender e ter filhos, que entendo ser o maior experimento humano que a vida nos permite.
 
Por você pude aprender, rir, sofrer e tomar consciência da falta de dignidade social e humana que muitos outros experimentam, e por você pude me movimentar na tentativa de incluí-los como seres socialmente dignos.
 
Vida, hoje te respeito acima de tudo, e por você respeito meus irmãos em espécie e respeito também todos os seres vivos, em todos os nichos biológicos. A vida, pelo menos a que conheço neste planeta, é totalmente interligada, em alguns casos é simbiótica e tão necessária, para que pudéssemos nós, os seres humanos existir.
 
Vida, tu me destes uma oportunidade, se espremida entre um nada ser e um nada a ser, tenho a certeza de que apenas louvar-te de nada adianta, tenho a certeza que o pequeno espaço de tempo, a única chance de te experimentar me faz eternamente grato e obrigado a ser e buscar ser digno com tua essência de vida.
 
Uma chance única, não tenho direito à recuperação nem a segunda época, Tenho uma única vida para deixar algo que ilustre sua beleza e que sirva de referencia e trilha para os que depois de mim virão caminhar, e mais, em especial ainda, deixar ensinamentos, por exemplos de vida, para todos e para meus filhos.
 
Obrigado vida, tu bem me permites te experimentar, eu mal posso te deixar algo.
 
 
 


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 19/07/2011
Reeditado em 19/07/2011
Código do texto: T3105557
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