Pondo fogo na filosofia

Hoje a filosofia entrou em minha manhã calma, e me trouxe pensamentos tempestuosos

Fiquei a deriva abraçada a solidões e pensamentos. As vezes só a solidão pode nos trazer certas respostas.

Como as que muitas vezes fiz e nunca obtive respostas alguma:

O que acontece se nos tornarmos indispensáveis?

Indispensável para nossos filhos.

Indispensáveis para quem amamos.

Indispensáveis para nossos amigos.

Indispensáveis para nossos colegas.

Indispensáveis para nossos vizinhos.

Indispensáveis para aquela pessoa que acabamos de conhecer e que nos cativou por ser simpática.

Isso nos traria algum contentamento?

( … mudez… )

Acabo lembrando de todos os amigos que tive até hoje, alguns saíram do meu caminho sem nenhuma despedida, outros disseram até mais ver e nunca mais, outros trocamos cartas por anos, e mentimos felicidades e tristezas que nunca conhecemos. Inútil imaginar que o tempo não repouse na amizade, porque afinal, essas amizades criam novas amizades, e ficamos meio desfocados de suas lembranças.

E os colegas? Já imaginou se fossemos indispensáveis para todos os colegas que tivemos na vida? Calcule do maternal ao ultimo ano de escola, em sua sala existiam menos de 50? Quando tempo você ficaria falando ao telefone? Ou quantas mãos teria que sair apertando nas ruas? A vida seria muito mais corrida e stressante do que realmente é, até porque você teria que lembrar de todas as histórias que passou junto com essa pessoa.

É engraçado como evitamos o contato com as pessoas que somos mais próximas: Os vizinhos. Eles sabem quase tudo ao nosso respeito, conhecem nossos horários, quem entra e quem saí de nossas casas, se estamos ou não brigados com algum ente querido, se a cobrança bate a nossa porta, se estamos de novo amor. Quantas fofocas não existiriam a mais ao nosso respeito se para eles também fossemos indispensáveis.

Não lembro de nenhum vizinho que tenha tido ao menos respeito, e quanto mais mudo de endereço, pioro de vizinho.

Se fossemos indispensáveis para o amor, ou os amores de nossas vidas? Quantos encontros não teríamos que programar em nossas agendas? Quantas roupas novas teríamos que comprar para deixá-los impressionados? Quantas pesquisas sobre seus gostos teríamos que fazer? Por certo passaríamos o dia inteiro nas redes sociais mexendo aquí e alí e descobrindo novas mágoas.

Tentei ser indispensável para meus filhos, tentei ser tudo que eles precisassem, tentei dar-lhes todas as boas coisas que um ser humano pode dar para outro. Quando eram pequeninos mamaram os três,nunca achei isso ruim, consegui com isso emagrecer cerca de 6 quilos menos do que pesava, estava sempre em boa forma. Com eles brinquei de bola, de corre-corre, de pular corda, de boneca e carrinho, conheci seus amigos e as famílias de seus amigos, comprei brigas por eles, e consegui fazer algumas vezes com que me entendessem e quando cresceram me ensinaram que sou dispensável, indispensável apenas quando precisam de mim.

Então percebi que ser indispensável é ser explorado, e que muitas vezes é legal não ter um reconhecimento, pois assim corremos atrás de outras coisas e aprendemos que a procura é o melhor aprendizado, quando aprendemos deixamos de ser subordinados a conceitos alheios.

Antes eu gostava da filosofia, achava que ela me levaria a razão, agora eu prefiro o mito, o risco das coisas o medo. Só agora percebo que queimar Sócrates e Platão é preciso!

Janaina Cruz
Enviado por Janaina Cruz em 20/08/2011
Código do texto: T3171276
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