O meu motivo para voltar: Você!

Eu estava com medo de atravessar a pequena cachoeira,

De onde meu primo estendia as mãos

Minhas mãos tocaram as dele, mas caímos juntos cachoeira abaixo

Nos meus 14 anos quando percebi que afundava na água, tapei o nariz e a boca com uma das mãos.

Eu descia cada vez mais fundo e não sabia nadar, tentava alcançar alguma coisa com a outra mão, quando de certa forma, perdi a noção de que estava dentro da água.

Minha vida toda começou a passar em flasches na minha mente,

Nelas via meu passado e as pessoas que eu amava e que eram importantes para mim.

Pude sentir à minha frente um lugar maravilhoso de estar e de onde não queria mais sair, uma paz profunda tomava o meu ser.

Então uma voz soou dentro de mim me dizendo que eu poderia seguir adiante se quizesse ou poderia voltar, que a decisão cabia a mim.

Novamente vi os rostos daqueles por mim amados...

Fiquei dividida entre seguir adiante e voltar...

Vi o rosto da minha mãe sempre tão frágil... e vi um outro rosto.

Era um menino bonito da mesma idade que eu, cabelos mais claros...senti por ele uma ternura imensa e um grande amor.

Uma apreensão imensa tomou o meu coração...

Eu não podia ficar!

Ele precisava de mim!

Minha mãe precisava de mim!

Tinha certeza de que ela não suportaria a minha morte.

O desejo de voltar surgiu fortemente e no mesmo instante senti que alguém me segurava pelos cabelos...

Emergi para a vida sem engolir uma gota d água.

Meu peito doía terrivelmente e um riso incontido me tomou.

Me sentia feliz, feliz!

Meu primo chorava assustado porque pensou que eu tinha morrido, devido ao tempo que passei dentro d água.

Combinamos de não contar nada aos nossos pais.

Minha família soube da nossa aventura um ano depois.

Ninguém brigou comigo, mas minha mãe levou um choque terrível ao saber.

Eu suspirei aliviada por ter decidido voltar.

Passaram-se muitos anos...

Passaram 16 anos.

Eu estava na casa de um colega da faculdade, tínhamos acabado de fazer amizade e, por vezes, estudávamos juntos.

Umas fotos na sala me chamaram a atenção e me aproximei para olhar.

Levei um susto enorme ao ver uma das fotos do meu colega uns anos mais jovem.

Quase não consegui disfarçar a minha emoção porque o rosto que eu vi era o mesmo que eu tinha visto à 16 anos atrás, na queda da cachoeira.

Perguntei quantos anos ele tinha naquela foto, mas não me deu muita atenção dizendo que fazia tempo...

Nunca contei a ele.

Seria muito estranho dizer isto naquele momento e também mal nos conhecíamos...

O tempo passou, tomamos rumos diferentes e não nos vimos mais.

Em mim ficou a vontade de ver aquela foto novamente, de contar...

Pois afinal de contas, você foi o meu principal motivo para voltar...

Quem sabe a vida nos dê uma oportunidade de nos vermos novamente...

Então vou contar.