UMA CARTA
Uma carta endereçada ao diretor do Instituto de Ciências da Religião (Icre), Pe. Luis Sartorel, mudou a realidade de seis homens. O autor da carta, o nigeriano Cornelius – preso por drogas - era detento do Instituto Penal Professor Olavo Oliveira (IPPO) II, em Fortaleza, Ceará, e enviou a carta porque estava interessado em fazer um curso de filosofia.
Ele prestou vestibular para o Icre e foi aprovado, mas a falta de carros e de policial para acompanhar impediam a freqüência dele nas aulas. Sartorel, com a ajuda da Pastoral Carcerária, entrou, então, em contato com a direção do IPPO II e com a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará para a realização de um curso de graduação em Teologia e Filosofia dentro do Instituto.
Tudo foi organizado, o vestibular foi feito e o sonho de estudo de um preso pôde ser ampliado para outros cinco. O curso, que é completamente regularizado junto ao Ministério da Educação (MEC), já está em no 4º semestre, dos oito que serão necessários para o diploma. Agora, ele terá continuidade fora das grades do IPPO II, pois os seis estudantes já estão em liberdade.
Em entrevista à Adital, o Pe. Luis contou do aprendizado duplo que é a realização do curso, já que os professores também aprendem muito ao trabalhar com os presos, e destacou a dificuldade e a complicação que é “falar de Deus e de liberdade dentro da cadeia”. É preciso um “esforço para rever parâmetros”, acrescentou ele.
A grade curricular e os horários tiveram que ser adequados aos horários do IPPO II. Assim, as aulas foram dadas no período da manhã, em módulos, até que fossem completas as 60 horas aulas necessárias de cada disciplina. O curso, que é financiado pela Conferência Episcopal Italiana, pode ter uma nova turma. O Icre está negociando com a Secretária de Segurança Pública essa possibilidade. A expectativa é que a nova turma tenha cerca de 15 alunos.
Em um espaço em que a violência, o “quem pode mais”, o “quem chega primeiro” dão as cartas, o aprendizado tem uma força ainda mais significativa. “Os valores de referência se mantiveram os mesmos, num lugar em que as referências são outras”, disse Pe. Sartorel. Com as aulas, os presos não aprenderam só lições acadêmicas, mas também a resgatar a dignidade, a auto-estima, a sensação de “ser gente.