Cárcere Privado

Fogão, cozinha, casa, vassoura, pia.

Quarto, louça, sabão, detergente, alvejante.

Em casa, no lar, no doce lar.

Veja Multiuso, Cândida, roupa, máquina de lavar, TV.

Em casa, em casa, em casa, em casa, fogão, arroz, feijão, fogão, em casa, arroz, feijão, em casa, em casa, fogão, arroz, feijão... Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!

Meio século de vida doméstica. Cinqüenta anos de cozinha. Dez décadas de cuidados familiares.

Restaurantes?

Não!

Uma vez na vida um jantar fora?

Não!

Flores algum dia?

Não!

Reconhecimento?

Tá de brincadeira comigo, malandragem?

Carinho?

Quem me dera!

Consolo nos momentos difíceis?

Ai ai...

Marido, mãe. Mãe, marido. Marido, mãe. Mãe, marido. Casa, roupa, pia, fogão. Casa, roupa, pia, fogão.

A senhora não está bem?

- Você tem raio X no celular?

Senti a agonia na voz de Dona Maria pelo celular. Notei que ela não estava bem, emocionalmente falando. Talvez seja o tempo imenso que passa em casa, que não sai para nada.

Além.

- Amor,

Disse-me minha mulher que também é bruxa nas horas vagas.

- O problema da Dona Maria é carência.

An?

Subitamente, entristeci e refleti por muito tempo. Como eu não via algo tão explícito?

- Meu problema não tem solução. Dizia Dona Maria.

Tentarei ajudar Dona Maria. Vou tentar. Devo isso a ela.

Devo mais ainda a você, minha Bruxinha. Por ser essa menina gostosa que me surgiu do nada para me fazer feliz.

Vamos tentar tirar a Dona Maria do seu cárcere privado. Mais uns tijolinhos para nossa residência celeste.

Obrigado, bruxinha.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 30/11/2011
Código do texto: T3364604
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