Carta ao amor

Instigadamente vivo em um ciclo que se forma em torno do mais complexo arbusto que de uma árvore pronuncia palavras fixas no miocárdio. Posso ser um pedaço de vidro quebrado, uma pétala murcha, lareira sem fogo e até mesmo um pássaro morto que por tantos anos sobrevoou os pequenos céus. Ódio, fracasso, reconstrução, são tais palavras que fazem parte daquilo que eu denoto como experiência. Quem bebeu daquela água, quem mastigou daquele vento suave e o adorou por toda a existência não vê outros caminhos, por tornar - se cego de espirito e apenas viver daquele absorto concreto que a vida insiste em segurar.

Eu já não me coloco diante de uma catástrofe sem fim, não espero que tudo se estabilize porque se não partir do meu "eu" então não haverá quem possa mudar tal realidade. Meu caro e bom príncipe que nas noites relentas me deixastes com um coração gélido estalando no peito, onde estas sua súplica? Onde estavas quando materializei - me diante de uma janela que se fechava para o mundo? Onde estavas quando não houvera mais amor? Um longo tempo parada aqui estou, desfrutando de algo que jamais soube me tragar por completo, respirando ares que rastejavam em torno de meus pesados e dormentes pés.

Ah, aquele amor, aquela tão perdida carícia que pelas noites passa e sustenta até um pobre animal ferido na rua. Aquele simples desejo e gótico prazer que torna - se vulnerável e sujeito à um constante giro em torno de um mundo em que se retiram soldados e se substituem por psicólogos. O que você fez com a coragem, óh amor? No que deixou o ódio, óh amor? Folhas de papel seguem linhas e linhas, desdenham uma simples tinta que por elas escorre. Escrevo esta carta para ti "amor", que por tantas noites vagou e o simples amar ficou, correndo atrás de um sonho perdido em meio aos ventos...

Priscila Czysz
Enviado por Priscila Czysz em 06/01/2012
Reeditado em 22/01/2013
Código do texto: T3424879
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