CARTA AOS MEUS FILHOS

Amados filhos, André, Graziela, Priscila e Aríscia

Escrevo-lhes da vitanda tristeza interior do humano de Hemingway, aquele pelo qual os sinos dobram; nada específico, apenas do ser e de todos nós!; mas, não me dirijo a vocês pra ocupar-lhes o tempo com as coisas do homem; pretendo que falemos das coisas da vida, aquele intermezzo de tempo entre duas certezas: o nascer e o morrer;

Viver é ser dúvida e conviver com o incerto; é construir sonhos e vê-los ruir sob o peso da realidade para apenas remontá-los adiante sobre alicerces da teimosa e humana esperança, lindeira íntima da ilusão e da fantasia. Dizem os entendidos “sede fortes e vencerás”; não nos dizem, no entanto, a quem vencer e assim, reflito: devem se referir à vitória sobre nos próprios, à derrocada dos momentos de impotência ante as dificuldades e ao silenciar o grito de dor, frente às perdas.

E como há perdas! A bem da verdade, a todo ganho corresponde um vazio de algo que se foi ou não veio! “Sede fortes”, portanto, é “vencei a vós próprios” no embate dos infinitos instantes da luta permanente!. Ademais, apeguemo-nos às expectativas de super-prêmios da loteria do viver!: um filho que chega, um título alcançado, uma humilde casinha branca construída e o seu encher-se de risos e livros e música. Há muito, sim; há muito com que se alegrar e calcar rascunhos de felicidade ou firmar-lhes marcas, passos do fazer-se feliz, quando o mais nos parece remoto, tanto quanto o luar!

Vi-os nascer, cada um, uma promessa; vi-os crescer, cada um, um processo de dores e alegrias; vejo-os hoje, cada um, um espaço de identidade delimitando-se e se espraiando pelo meu outono que chega com o frio prometido nas noites do próximo inverno. Vejo-os nos poemas que teimosamente tenho escrito; muitos já perdidos, outros guardados na memória de alguns que se sensibilizaram e de outros que os valorizaram como de si ou para si. Vejo-os na lide da qual já busco o descanso e acredito-os como o fiz comigo mesmo quando a energia da juventude me impeliu a vocês, aos acertos e aos meus erros do viver. Creio-os amados, pois que nunca lhes escusei sentirem-se assim, de mim. Por fim, deixo-me vencer pela oração sauliana: à minha maneira, combati o bom combate de tê-los, acabei a carreira e me proponho a guardar a fé em que nosso amor lhes será o combustível para a construção das suas próprias felicidades!

CLAUDIO SILVA, O CLAUDIO BAHIA, em 11/01/2007 – 15:17h

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