Carta

Embora todo tempo passado, percebo que continuas vendo em mim, a mesma mulher que aparentava ser bem resolvida, mas que trazia dentro de si, todas as incertezas humanas.

Tudo que eu sabia, era que não queria saber de nada. Não queria encarar as verdades escancaradas. E muitos contribuíram para que eu continuasse assim, por que era interessante. Enquanto estivesse mascarando minhas reais necessidades, jogava o jogo dos demais.

Foi uma caminhada bastante conturbada. Pensava ser de uma maneira, agia como se fosse como pensavam de mim, desmentia, caía em contradição.

O despertar foi difícil e doloroso. Escancarar a porta, descobrir todas as máscaras que usei, com o intuito de não me descobrir, de não descobrir o ser frágil e cheio de defeitos que escondera por boa parte da vida, foi um choque.

Um dia, por mais que consigamos protelar, esse choque acontece. Há muitas formas de reagir a essas descobertas. Podemos criar outras máscaras e continuar com a farsa. Até tentei. Não deu certo.

A franqueza com que costumo agir com os outros, acabou por derrubar todas as minhas tentativas de esconder-me de mim mesma. Senti vergonha. Recolhi-me. Comecei a reconstrução. Desta vez, com bases mais sólidas. Relembrei o que eu negava como verdades, por serem ditas pelos outros.

Dizer que não importa o que os outros pensam, é mentira. Sendo seres gregários por natureza, vivemos em grupos e, portanto, necessitamos da aceitação do nosso grupo. Assim, a opinião que os outros têm sobre nós, importa. E devemos dar-lhes atenção, pois das suas observações, tiramos subsídios para passarmos a nos ver com lentes de aumento. Para o que é bom, e para o que não é também.

Continuo muito crítica, inclusive com relação a mim. Não condescendo, pois sei que recaídas sempre podem acontecer. Mas me vigio, constantemente.

Deixei muitas coisas para trás e não pretendo resgatá-las. Deixei na mala, apenas algumas coisas essenciais. Não esqueci o que ficou, para não repetir erros, mas prossigo olhando para a frente. Não tenho mais um objetivo específico a atingir. Se há coisas que posso vir a realizar, elas aparecem e eu as vou assimilando e administrando à medida que chegam.

Acho que aos poucos, estou começando a trilhar o caminho do meio. E isso é bom.

15/01/2007