Tsunamis Emocionais

“Apenas as garotas boazinhas escrevem diários. As malvadas não têm tempo pra isso!” [Tallulah Bankhead, atriz norte-americana]

Tenho estado meio atemporal e quase impostora nesses últimos idos... Garotas malvadas... Engraçado, engraçado: hoje eu escrevo em diários (ou blogs) “internéticos”! Conjugo o verbo blogar... Poemas e sonetos; imagens e devaneios... Ao invés de acidular circunstâncias, em intempestivos gestos diários. Aí leio uma frase como esta da Tallulah. Danou-se! Deu pane! E não fui eu, assim como tu, sempre tida como uma bad girl? Mas, ser bad girl significa necessariamente nessa mesma ordem ser malvada? Ora...

[Eis-me aqui gritando a dor de ser passageira da agonia. Eis-me aqui vertendo o suor, tentando vencer a tirania... Eis-me aqui voluntária de lutas, que sangra, mas o sangue não é azul. Sou aquela a quem cobram condutas: a filha parida por mãe do norte ou do sul!]

Escrito há mais de 20 anos e ainda latejando em minhas veias esse meu velho REVERSA [poema que me lançou ao mundo da escrita e com o qual eu comecei a repelir os sobejos sociais da época]. Resolvo então não adocicar nem mais meio metro. Sem essa de boazinha! Sem essa de aceito amém e farofa! Não posso macular minha fama a essa altura do campeonato! Não tenho tempo pra isso... Ih! De bandeja! “As malvadas não...”. E agora, bela? Quem pula primeiro a janela?

Sei não viu? O tempo vai passando via satélite pelas ruas e avenidas e as cabeças continuam medievais. E mulheres como nós, Tallulah, sempre estarão brigando contra o tempo, as marvadas [cuja carne a lâmina corta!]. Ah cara mia, mas se ser good pudesse responder à pergunta do Renato: “E hoje em dia, como é que se diz: eu te amo?” [amado Russo, sodade, sodade!], eu me embandeirava pros lados de lá! Juro! De mala, cuia e auréola! Pra não ter de sofrer as agruras do “livre pensar é só pensar!” e livre escolher é só fazer, sem ao menos ter um escape sequer.

Temos que queimar neurônios, pra sacudir a poeira e comer, digo, vencer um leão por dia! Ou por hora, por minuto, por segundo... Para não sermos surpreendidas pelos tsunamis emocionais, afetivos, psíquicos, sociais, financeiros, comportamentais e outros tepeemísticos que a própria natureza feminina e humana nos impõe.

Temos que fazer história, a nossa história [fizeste, não foi?]! E quem faz história não assina livros, cara mia! Fica apenas, posteriormente, registrada neles — ainda que, muitas vezes, de forma equivocada, mal interpretada e/ou obscurecida, como alguns famosos bonzinhos e mauzinhos, pró e contra, da nossa história!

A gente tem que despedaçar as algemas, nega, romper o silêncio das páginas em branco, ainda que seja tingindo-as de suor e sangue. Além do mais, é como disse o Oscar, [sabe?] o Wilde: “A idéia que não envolve perigo não chega a ser idéia”. E às vezes escrever diários pode ser por demais perigoso! Porque talvez, secretamente, nós – as malvadas –, exaustas da tríplice jornada, ansiemos por deitar de bruços sobre a cama, cruzar as pernas sobre as nádegas apenas pra registrar num diário a nossa falta de tempo!

Creio caríssima, que certamente discorreríamos sobre a máxima da Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher. Torna-se mulher”!

Goretti Gaivota
Enviado por Goretti Gaivota em 02/02/2012
Código do texto: T3476935