Carta de amor


 
As cartas de amor, se há amor,
têm de ser  Ridículas.
                        Álvaro de Campos


Numa noite qualquer, fria e de chuva, um pouco depois das 22h...

Amor meu

Da vidraça da varanda do lugar onde me encontro, vejo a chuva que cai lavando a cidade e, gosto de imaginar, lavando a alma do mundo. O clarão dos relâmpagos e o ribombar dos trovões me faz pensar que daqui a pouco a energia elétrica pode falhar e torço para que nesse lugar tenha gerador, pois não deve ser nada divertido ficar sozinha no escuro, num lugar estranho.
Não tenho medo, mas estou com frio.Frio no corpo e frio na alma. Um frio de saudades do seu carinho, do seu sorriso, da ternura dos seus olhos, do calor das suas mãos nos meus cabelos, de encostar meu corpo no seu. Saudades de você comigo, meu Amor.
Por causa da chuva desliguei o computador e leio poemas para passar o tempo, chamar o sono, diminuir a falta que me faz sua presença.E escrevo-lhe.Jeito meu de conversar contigo quando estou longe.
Vê que lindo: “Quieta e muda despojada de palavras, sou uma ternura vadia e solitária que roça as asas de ave noturna. Sou remanso, amor, sou flauta doce. E te amo com a luxúria das estrelas que milenarmente enfeitam as noites. Em silêncio beijo o teu ventre e em silêncio adormeço à sombra do teu peito. No silêncio entre o meu corpo e o teu, fixo a tua alma na eternidade da minha alma porque quero que sejas sempre um surreal poema de trigo e luz” (Arriete Vilela)
E é exatamente assim que me sinto, Amor, é assim que amo você: com a luxúria das estrelas que milenarmente enfeitam as noites! Sei que vai rir quando ler isso e vai pensar: “Do que mais essa maluquinha é capaz?”, mas vai me amar mais ainda, pois sabe o quanto o meu amor é inteiro e quanto nos faz bem essa minha atitude de não temer as palavras e, menos ainda, os sentimentos que elas traduzem.
A chuva diminuiu um pouco, mas o frio aumentou. Vou apagar a luz, me agasalhar bem e tentar dormir. Daqui, uma prece e o desejo de que tudo fique bem enquanto estamos longe um do outro. Um beijo molhado de saudades. Durma bem, meu Amor.