Em referência: Zé Honório

20/11/2001

Eduardo: o chato do Zé Onório mandou outra daquelas suas colunas. Ele acha que é engraçado brincar com os costumes de outras culturas. Estou colocando aqui embaixo. É um escritor proletário, quem sabe você não possa dar uma força e publicar?

O lançamento do meu livro vai acontecer como previsto, em 5/12/2001, numa livraria elegante de Ipanema. Viu, você não quis me publicar, mas eu sou insistente e convenci o Gláucio da Qaurtet. Está certo, tive que entrar com o dinheiro. Sei que não recupero. Mas vale como despesa promocional. O Daniel vai tocar piano a meu pedido. Mande uma lista de convidados seus para a editora mandar os convites pelo correio. Abraços de Jacques.

Coluna do Zé Honório.

Depois da queda dos talibãs, a última moda em Cabul são os salões de beleza. Mais e mais beldades afegãs, Roxanes e Alexandras, vão aos salões para cortar os cabelos, pintar as unhas, se maquiar, colocando longas pestanas artificiais, e treinando a sabedoria feminina antiga das poses “sexys” e das boquinhas entreabertas dos anúncios de lingeries. Mas, o grande lance é, definitivamente, abandonar aqueles panos que lhes cobriam os rostos. Não sei porque o povo do oriente tem essa mania de se cobrir de panos. Talvez seja para se proteger do sol causticante e do vento e areia do deserto. O Arafat usa aquele pano xadrez na cabeça há décadas; espero que o tenha lavado nesse ínterim, porque senão torna-se impossível qualquer conferência pela paz.

Quanto às mulheres, o uso dos panos parece ser um resquício da antiga vida tribal. Mulheres são propriedade, tal como bois, camelos e cabras. Então, cada honrado servidor Dele julga-se no direito de proteger o seu rebanho, ocultando-o do resto da humanidade. Quando vemos aquelas misteriosas formas femininas inteiramente envoltas em panos, a imaginação voa. Imaginamos, sempre, que é bonita. Para alguém da região, uma mulher envolta em panos parece um bombom enrolado em papel brilhante; dá vontade de desembrulhar e comer. E quando o bombom vem sem a embalagem, aí é que o apetite se aguça.

Ao tomar conhecimento de que as verdadeiras feministas de Cabul, ultrapassando o estágio da ida ao salão de beleza, estão ousando amamentar os seus “babies” em público, como as matronas italianas fazem há séculos, colocando os seios fartos à luz do sol, nas ruas, podemos imaginar a longa fila de marmanjos que se forma na esperança de dar a sua mamadinha também. É nessa hora que a Betty Friedham do oriente diz com desprezo: de barba, não!