Diálogo Secreto

Filha,

Um dia você começou a se mover dentro de mim, quase imperceptível, pequenina e silenciosa.

A partir de então, conversávamos todos os dias e eu te dizia como era o mundo do qual você faria parte.

Mas, o fato é que eu só conseguia te dizer coisas boas. Te falava do céu, do mar, dos campos, das estrelas, da lua, do sol e até das pessoas (só do lado bom das pessoas).

Senti, porém, minutos antes de vivenciarmos o ato maior de cumplicidade entre duas pessoas, o parto, que deveria te falar um pouco sobre essa dor, a dor de nascer. Me permiti te falar desta dor porque sabia que era um tipo especial, era uma forma de dor/prazer. Por isso, te contei antes. Quis que soubesses que toda transformação (ação de mudar a forma) dói, mas, é sempre seguida por uma alegria intensa, por uma plenitude sem fim.

Só que eu não consegui te falar (e pensei que nunca conseguiria) da dor que existe em alguns momentos do viver.

Foi aí que quando estava em silêncio, te senti sussurrando baixinho sobre essa dor. Essa sua/minha dor. Neste eterno momento, te estendi a mão, e novamente éramos cúmplices de outra vivencia existencial: o renascimento. Juntas, aprendemos que a cada dor de viver segue-se um re-nascer e por isso, segue-se um novo prazer.

Agora somos capazes de ver o mundo como ele é e lidarmos melhor com a dor/alegria (angústia) de existir de modo autêntico.

Te amo muito.

mãe

Marta Klumb Rabelo
Enviado por Marta Klumb Rabelo em 19/07/2005
Código do texto: T35860