SOMOS FEITOS PARA AMAR, APESAR DAS DECEPÇÕES

Essa menina, mulher, observadora, preferindo ouvir a falar, já não deseja iludir-se nem encantar-se num primeiro momento... por mais que um olhar lhe chame a atenção. Já sofreu o bastante, amou muito, sem ter esgotado sua cota de doar-se. Acredita que ainda há homens sinceros, carentes, companheiros; mas, estar só, para ela, não quer dizer solidão. Cada vez mais ela conhece o seu interior. Também ela não é de entregar-se no primeiro instante. Ainda precisa, para isso, do encantamento, da conquista, para que o amor seja pleno, sem arrependimentos. Essa menina, mulher, observadora, ainda sai para dançar. Aliás, é o que mais gosta de fazer! Ver pessoas, conhecer pessoas, nunca à caça... sem frescuras nem esperanças; apenas, crente de que o que o destino reservou a cada um, ninguém é capaz de tirar. Ter e manter novas amizades, trocar ideias, falar de bobagens e coisas sérias, chorar, sorrir, saber dizer não ou sim, isso tudo depende de como ou do quanto valerá a pena. Simples, simplesmente assim. Talvez, ela tenha se aproximado pelos gostos, pela poesia, pelo olhar, quiçá. Importa que valeu a pena e ela sabe que será mais uma e você será mais um em sua vida: amigos, poetas, parceiros, sonhadores; enfim, que seja o que vier”.

Concordo com tudo que falaste, menina/mulher. Até sei que os caminhos trilhados são árduos, muito embora seja no meio deles que estejam, justamente, a curiosidade e a beleza de se fazer a caminhada. Podemos até, no final da estrada, apenas nos lembrarmos de como chegamos, porém nunca devemos nos esquecer que, mesmo havendo a decepção e a tristeza nesta chegada, durante o percurso, tivemos momentos de pura magia, com juras eternas, hiatos de felicidade e períodos longos de desejos e prazeres.

É verdade que, depois de uma experiência amarga, a desesperança toma conta de nós. Mas, nem por isso devemos desprezar um olhar que tenta, a todo custo, se fazer notar, por mais que nosso olhar seja cético com relação às novas chances de se apaixonar. Deixe-se penetrar pela visão de quem ainda não sofreu o mal de um final de caminhada. Acredito que este tipo de olhar não oferece o perigo de estar mal intencionado, de apenas querer conquistar sem dar nada em troca. Talvez, como bem disseste tu, esse seja o olhar de quem é honesto, sincero, companheiro ou, pelo menos, procura, no outro olhar, a possibilidade de iniciar uma caminhada, de mãos dadas, sem ter medo de sofrer, durante a mesma, os percalços que, porventura, estejam a espreitá-los.

E nunca devemos achar que apenas tiramos, de nossas relações, lições de derrota e decepção. A perda é, em muitos casos, a lição mais importante que podemos ter para, em caso de uma nova chance, saber como driblar o fracasso e chegar a uma vitória sem ter que nos preocuparmos com o fantasma de um antigo filme já vivido por nós.

E pode acreditar: de cada relacionamento ou decepção amorosa – parece um paradoxo dizer assim –, saímos mais fortalecidos e melhor preparados para abrirmos, de novo, o nosso coração. Por isso, como bem tu disseste, não é preciso se agarrar à primeira tábua que se encontra, mas saber como tirar, do que dá prazer, aquilo que não presta e que só vai resultar em dor de cabeça no seu final.

Tu mesma disseste: sou observadora. A observação faz parte do olhar. E é observando que sabemos como tirar o joio do trigo, ou melhor, é através do nosso olhar cético (que existe neste momento em ti) que o nosso olhar sentimental passa a perceber as virtudes no olhar da pessoa que está querendo uma oportunidade de começar tudo de novo.

Então, se ainda não estás convicta de que podes (e deves) te apaixonar de novo, não tenhas pressa. Aproveites os momentos, já que ainda não encontraste um novo amor, e saias, divirtas-te, explores, conheças, te alegres. Aliás, tu já disseste que o fato de estares só não significa estares solitária. É também verdade o que tu falaste. Inclusive, eu assino embaixo. Até a solidão é, em muitos dos casos, a limpeza que a alma precisa para se renovar, retomar o seu destino e buscar se fortalecer para um novo caminhar a dois.

Outro dia, eu ouvi dizer que a maioria das desilusões é esquecida assim que o amor bate à porta e a pessoa, ao recebê-lo, esquece-se de tudo quanto passou no relacionamento anterior. Acho que isso é chamado de compensação. Então, não te desesperes mesmo, pois para cada casa existe um botão, ou para cada olhar existe um olhar que sabe, exatamente, como tocar o teu coração.

Ah! Quando encontrares esse olhar, a única coisa que tu precisarás fazer será te deixares levar pela infantilidade que a paixão produz. Rias, fales bobagem, contes algo engraçado, voltes a seres boba, pois nada é mais natural do que o sorriso de quem está recebendo, em si, a volta do amor.

E não escolhas, sejas eclética. De onde menos esperamos é de onde ele chega. Às vezes – digo por experiência própria – ele chega de nave, de carruagem, de trem, de avião. Mas, deixes eu te dizer uma coisa: ele sempre chega. Contudo, chegar é uma coisa, ficar é outra. Por isso, quando ele chegar, primeiro agradeças; segundo, procures tratá-lo bem. Terceiro, ofereças a ele o melhor de ti. Mostres-te por inteiro. Tu, por exemplo, já levas uma vantagem grande: conheces-te a ti mesma.

Por fim, quero dizer que caminhamos sempre em busca de algo que nos complete. E para que esse algo aconteça, muita coisa, antes, infelizmente, chega primeiro. Eu sei: para alguns, outros não. Todavia, o que importa é estarmos preparados – assim como tu estás – para enfrentar as intempéries dessa estrada (pois já sabemos os locais onde estão os penhascos, os precipícios e as crateras no meio da passagem), sabendo que são provações passageiras que, no final, poderemos alcançar um porto seguro e dele desfrutarmos as delicias que só o amor tem para dar.



Obs. Imagem da Web



Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 22/04/2012
Reeditado em 02/05/2012
Código do texto: T3626740
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