Carta 005 - Sacramentais

Carta 005

Assunto: Sacramentais

Uma leitora de Santa Maria, RS, informa que sua filha,

freqüentadora da cate-quese de Crisma chegou em casa

falando em “Sacramentais”. Ela gostaria de saber o que são,

quais são e como agem?

Cara amiga,

Além dos Sete Sacramentos que conhecemos, nossa mãe Igreja instituiu também os sacramentais. Estes são, à imitação dos sacramentos, sinais sagrados que significam realidades, sobretudo de ordem espiritual, e se obtêm pela oração da Igreja. Por meio deles dispõem-se os homens para a recepção do principal efei-to dos sacramentos e santificam-se as várias circunstâncias da vida. (SC 60). De-ve-se ter cuidado com o uso da expressão sacramentais, que, como é empregada na Igreja, difere e não tem relação com sacramentos.

O que são sacramentais?

Sacramentais são orações, gestos e ações com as quais a Igreja abençoa (benze) pessoas, objetos, casas, automóveis. A “água benta” é um sacramental. Os pais também podem abençoar seus filhos com a fórmula bíblica: “O Senhor te a-bençoe e te guarde! O Senhor te mostre seu rosto brilhante e tenha piedade de ti! O Senhor te mostre seu rosto e te conceda a paz!” (Nm 6, 22-26). Recomenda-se que as famílias tenham em casa um frasco de água benta para essas bênçãos. Os sacramentais são expressões da fé popular, não sendo ritos mágicos nem supersti-ções. Qualquer leigo ou leiga, batizado, com fé e conhecimento pode administrar um sacramental.

São sinais sagrados que, à semelhança dos sacramentos, significam e reali-zam efeitos, sobretudo espirituais, pela oração da Igreja. Se os sacramentos são de instituição divina, administrados em nome de Jesus Cristo e atuam com especial eficácia (ex opere operato), os “sacramentais são instituídos pela Igreja (Santa Sé, cf. CDC 1167), administrados em nome dela e dispõem as pessoas para receberem as graças que as santificam nas diversas circunstâncias da vida”.

São sacramentais: as “bênçãos” (de pessoas, da mesa, da água, de objetos, de lugares), algumas invocativas e outras constitutivas; as “exéquias” e os “exor-cismos”. Incluem sempre uma oração, muitas vezes acompanhada de determinado sinal (imposição das mãos, sinal da cruz, aspersão de água benta, etc.). Podem mi-nistrar os sacramentais, o sacerdote, o diácono e também os leigos. (Cf. CDC 1166-1172; Cat. 1667-1673). Os sacramentais são ajutórios (atuais) da graça de Deus.

Quais são os sacramentais?

Os sacramentais podem ser constituídos por ações ou objetos.

Os objetos são, por exemplo, artigos de devoção consagrados pela Igreja: velas, palmas, crucifixos, medalhas, terços, escapulários, imagens do Senhor, da Virgem, dos santos e dos anjos. As ações podem ser as diferentes bênçãos e exorcismos concedidos pela Igreja a partir de pessoas sólidas na fé. Algumas bênçãos têm a finalidade de dedicar alguma coisa ao culto divino, como, por exemplo, um cálice, um altar ou paramentos litúrgicos. Outras se destinam à invocação de proteção e misericórdia de Deus sobre uma coisa ou pessoa, como um automóvel, um lar, um doente, uma roupa, a Carteira Profissional de um desempregado, etc..

Como agem em nós os sacramentais?

Quando usamos com devoção um sacramental – como, por exemplo, a água benta ou uma medalhinha benta – nos colocamos sob a ampla proteção da Igreja. Mas essa ação da Igreja só será eficaz se nos dispusermos a aceitar o amor da Pro-vidência divina e a consciência de nossa total dependência de Deus. Esta é a dupla raiz da eficácia dos sacramentais: a oração da Igreja e a disposição interior de quem os usa. Vejamos os sacramentais mais conhecidos:

 A água benta

Um sacramental que nos é muito familiar é a água benta, que é a água co-mum abençoada pela Igreja, tornando-se, assim, um sacramental. Ao abençoar a água, o sacerdote, o diácono ou qualquer ministro leigo se dirige a Deus dizendo: “Deus eterno e todo poderoso, quisestes que, pela água, fonte de vida e princípio de purificação, as nossas almas fossem purificadas e recebessem o prêmio da vida eterna. Abençoai esta água para que nos proteja neste dia que vos é consagrado, e renovai em nós a fonte viva da vossa graça, a fim de que nos livre de todos os ma-les e possamos aproximar-nos de Vós com o coração puro e receber a vossa salva-ção”.

Isso é água benta: um elemento comum da vida cotidiana que a Igreja trans-formou em instrumento de graça, embora não portador direto da graça, como são os sacramentos (graça santificante). Da utilização da água benta, com devoção, em nome de Jesus Cristo, nasce o refúgio sob a oração da Igreja. Num lar católico, é bom que haja água benta além de velas ou círios bentos, bem como o crucifixo.

 O crucifixo e as velas

O crucifixo é um sacramental de fundamental importância e memória na vi-da do católico. É o símbolo que mais claramente nos lembra o amor de Deus pela humanidade, pois é a imagem de Seu filho morto na cruz pela salvação dos ho-mens, levando-nos ao arrependimento das nossas faltas, atenuando nossas afli-ções e contrariedades. É colocado numa parede ou sobre um móvel e também nos quartos de dormir.

Além do crucifixo, círios, velas ou lamparinas colocados ao lado da cruz ou em algum outro lugar da casa, também são sacramentais muito comuns e, sobre-tudo, importantes, pois se representam como símbolo de Cristo, Luz do Mundo. O uso de lamparinas ou velas como elementos de culto religioso é uma prática uni-versal na história da humanidade. E a Igreja santificou esse simbolismo prescre-vendo o uso de velas na maioria dos cultos. Durante a Missa, por exemplo, devem arder uma ou mais velas, o mesmo acontecendo na administração da maioria dos sacramentos.

 O escapulário

O escapulário do Carmo é um sacramental bastante difundido entre os cató-licos, e lembra nossa dedicação à Mãe de Deus e nossa Mãe. Consiste em duas pe-ças retangulares de lã marrom, unidas por duas fitas ou cordões levados sobre os ombros. O costume de usar o escapulário data da Idade Média, quando os leigos ingressavam nas ordens religiosas como “oblatos”, podendo participar das orações dos monges e também usar o escapulário monástico. O escapulário mais difundido é o da Ordem Carmelita. Sua popularidade advém da promessa que a Virgem do Carmo teria feito a São Simão Stock (carmelita do século XIII) de que ninguém morreria em pecado mortal se usasse o seu escapulário.

O escapulário de pano (cujo nome se origina da palavra latina scapula, que significa ombro) pode ser substituído por uma medalha-escapulário que se traz constantemente sobre o corpo.

 O exorcismo, um sacramental muito especial

O exorcismo é um sacramental pelo qual a Igreja, em nome de Jesus Cristo, ordena publicamente e com autoridade, que uma pessoa ou objeto sejam protegi-dos contra a influência do maligno e subtraídos de seu domínio. A possessão dia-bólica tornou-se rara porque, por sua morte, Jesus redimiu a humanidade a anu-lou o poder de Satanás. Por essa razão a Igreja é muito cuidadosa antes de permi-tir um exorcismo, procurando averiguar se é um caso de possessão real ou de um desequilíbrio mental ou algum outro tipo de perturbação psíquica. Só pessoas sóli-das em sua fé podem realizar o exorcismo e a Igreja exige que se guarde segredo por parte de todos os que dele participam. Antes se dizia que só os padres jesuítas podiam realizar exorcismos. Hoje já se sabe que qualquer batizado pode executar esse rito, desde que autorizado e reúna as condições indispensáveis.

 As bênçãos protetoras

Muitos desconhecem a grande abundância de bênçãos que fazem parte do depósito dos sacramentais da Igreja. Existe uma bênção, ou seja, uma oração ofi-cial, para, praticamente, cada ação importante na vida humana ou, ainda, para cada necessidade humana. É possível enxergar aqui, também uma importante a-ção da Igreja, como a “Liturgia das Exéquias” em que a Igreja encomenda seus fiéis defuntos à misericórdia do Pai. A Igreja abençoa, por exemplo, as crianças, as mães, os enfermos, a casa, os alimentos, o pão, os instrumentos, as vestes, os campos, as plantações, os animais, os veículos, a escola, as bandeiras, etc. Por is-so, o Vaticano II diz: “... não há coisas materiais honestas que não possam ser diri-gidas à finalidade de santificar o homem e louvar a Deus”. (Vaticano II - Sacrosanc-tum Concilium, SC 61). Os sacramentos, são ex opere operato, por conta de sua riqueza intrínseca funcionam por si mesmos, como ações de Cristo. Os sacramen-tais precisam ser acionados pela nossa fé.

Concluindo, vemos as diversas formas de sacramentais que a Igreja dispo-nibiliza aos que crêem. Entre os sacramentais figuram em primeiro lugar as bên-çãos de pessoas, da mesa, de objetos religiosos e profanos e lugares. Toda bênção é um louvor a Deus e um pedido para obter seus dons. Em Cristo, os cristãos são abençoados por Deus, o Pai “de toda a sorte de bênçãos espirituais” (Ef 1,3). É por isso que a Igreja dá a bênção invocando o nome de Jesus e fazendo habitualmen-te o sinal sagrado da cruz de Cristo (Catecismo da Igreja Católica, 1671).

Que Deus a abençoe!