CARTAS DE LISBOA ll
9 DE MARÇO de 2012
Uma suave subida da temperatura, um céu limpo e azul, antecipa a primavera.
A nossa dependência do clima é tão profunda como a das arvores. Temos também raízes invisíveis que nos mergulham no ambiente. Sobrevivemos em condições quase milagrosas através de eras hostis, e agora aqui estamos a comtemplar, a sonhar, a viver graças a Deus, graças ao milagre, que ainda não reduzimos felismente a uma equação final.
12 de MARÇO
Um polvilhado branco como pó de talco derramou-se na verde relva do jardim.
Os malmequeres explodiram súbitamente e despoletaram o meu espanto e encanto.
Deslumbrado, como inocente criança para quem todo o mundo é novo fico embebido com o infantil olhar da alma neste fulgor branco como véu de noiva, que se derrama imaculado sobre a terra mãe.
É o fim do inverno. Desponta de novo a vida, e as suas cores, evoluindo dessa precoce e branca flor da amendoeira, ao amarelo fulvo das acácias, ao roxo da violeta da quaresma, ao rosa dessa flor, e ao apogeu rubro e quenta da papoila.
A vida será apenas uma questão de cor e temperatura?
"Há fogo que arde sem se ver".