CARTAS ENTRE REBELDES

Papai e Mamãe,

Hoje eu ouvi muitas coisas que eu bem que já sabia e outras tantas que eu nem imaginava. Sinto um desejo enorme de crescer, de poder fazer tudo, de conhecer esse mundão...

Às vezes vocês me dizem que eu não sou mais criança e que tenho que dar bons exemplos para os menores. Outras vezes, falam que já sou uma moça e que eu tenho que respeitar os mais velhos. Então, fico num dilema horrível: sou grande para não fazer pirraças e o que vocês chamam de bobeira, mas sou criança para namorar, beijar na boca, chegar à nossa casa de madrugada, fumar e beber. Vocês pensam que é fácil ser duas coisas ao mesmo tempo?

Penso que a velha história de que o estupro, o assalto, a Aids ou os acidentes estão me esperando na esquina ou nas madrugadas é ficção de quem não quer me deixar crescer.

Dá para vocês me explicarem como eu vou aprender a me defender se eu nunca me expuser aos perigos? Por acaso alguém aprende a dirigir, nadar ou digitar sem treinar. Por ventura alguém aprende essas coisas só lendo o manual de instruções?

E tem mais: sabe o Sr. Ernesto e a Dona Carlota? Eles deixam o Carlinhos dirigir, a Cândida viajar com o namorado... Por que eles podem e eu não posso? Eu penso que eles gostam dos filhos e que vocês me odeiam. Melhor seria vocês me confinarem num convento, de uma vez!

Outra coisa: Pelo amor de Deus, se a Sussu engravidou aos treze anos, não quer dizer que eu irei engravidar, quer? Ora bolas, tem hora que eu nem sei se gosto de vocês.

Ass. Uma Rebelde.

Cara Rebelde,

Sei que, às vezes, você pensa que seus pais são um bocado caretas e que nem gostam muito de você. Em seu entender, amar você é lhe dar TUDO, custe o que custar. É deixar você dirigir, viajar, namorar, tomar porre, chegar a casa de madrugada...Na verdade, os seus pais sabem que a madrugada é propícia ao álcool, às drogas, ao sexo inconseqüente, aos estupros, aos acidentes...

Eu sei que você não quer saber de nada disso, não quer aprender com a experiência de ninguém. Creio que você tem pressa em descobrir, experimentar e viver tudo, mesmo que isso desemboque na dor, no sofrimento, no descrédito, na mutilação física ou moral.

Diante dessa crença, preciso de lhe fazer algumas perguntas: O que você sabe das muitas crianças que não têm pais, nem lares e nem NADA? Quais você supõe que sejam os sentimentos daquela que aguentou os seus chutes no ventre, a amamentou, trocou suas fraldas e velou o seu sono nas madrugadas ou quando você estava doente? Você imagina o tamanho da aflição que acomete os seus “velhos” enquanto você não abre a bendita maçaneta de sua casa? Sabia que o “coroa” que “enche o seu saco” é o mesmo que “rala” o dia todo para lhe dar seu alimento, suas roupas e a sua cama quentinha ou fresquinha?

Saiba que você não está pronta e acabada, e que o tipo de gente que você vier a ser é responsabilidade direta de todos os que tinham e têm a obrigação de a educar. A verdade é que ninguém pode pecar por omissão ou irresponsabilidade, muito menos aqueles que a trouxeram ao mundo.

E tem mais: não me venha com aquela história de que você não pediu para nascer, porque se seus pais soubessem que em vez de um anjo nasceria uma peste para atazaná-los, talvez mudassem de idéia e você iria perder a oportunidade de estar nesse planeta.

Sabe por que você está aqui nesta “espaçonave” que gira ao redor do sol? Para ser feliz, é verdade, mas querer merecer isso e viver infelicitando pessoas é uma grande sacanagem sua.

Sei que conselhos deveriam ser vendidos, mas eu lhe repasso gratuitamente um que me foi dado por uma velha professora: “VIVA O SEU PRESENTE, DE MODO A QUE NO FUTURO,VOCÊ NÃO SE ENVERGONHE OU SE ARREPENDA DO SEU PASSADO”.

É bom refletir sobre todas essas coisas, porque o tempo passa rápido e logo, logo, sua juventude passará e você deverá ter estrutura emocional para aguentar os rebeldes que entrarão em sua vida.

Ass. Uma ex. Rebelde.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 01/06/2012
Código do texto: T3699416
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