Destinatário

Precisava escrever esta carta. Destinatário? Talvez, o meu próprio destino. Mas o meu destino saiu em viagem. Colocarei pronomes? Ele, ela, Você? Não sei. Não começarei nem com “meu amor”, nem como “querido(a)”, começarei simplesmente, com um carinho.

1 beijo

O céu está nublado. O vento vem do leste. O que tem ao leste? Montanhas, oceano, terras de ninguém, deserto? Oásis? Incolor. Invisível. O vento está barulhento, bagunceiro, atrevido. Sinto vontades do norte. O norte que norteia, não é isto? O que define projetos, o que traça trajetos. O norte não é tão perto. O norte está distante demais. Dizem que transportando histórias.

Dizem até que não volta mais. Que se dane, então, por lá.

Outro beijo

Chove na linha do Equador. Chove tanto, que o desaguar vai afogar o mar.

E os peixes irão afundar. Mar profundo, mar de canto de sereia. Mar de mar, apenas de mar.... Será que o que tenho dentro do peito, que se avoluma como um defeito, poderia ser um pedaço de mar? Às vezes vaza em meus olhos, parecendo nunca minguar. Um pouco do oceano - que habita o habitat do meu penar, nunca foi um pedacinho de mar. É um mar inteiro de dor.Marés altas parecendo transbordar os mal feitos de uma vida esquisita que embolou nos meus pés, quando quis caminhar.

Abraço, agora?

Meus dedos tamborilam, impacientes, ritmando o riso aflito. Ei, cadê o doce sorriso? Perdeu-se na curva da espera. Cansou de buscar meios de nunca fragilizar. Mas foi. Aos poucos. Lentamente sumiu da expressão. Automatizou-se. Mascarou-se. Agora é apenas um esgar. Hahahahaha, que mundo risível, nem um palhaço no picadeiro, todos amontoados, rindo do próprio umbigo.

Então, adeus.

Você, ele, ela? Eu?

Eu???????

Sem aceno

dobro-te ao meio.

A quem endereçar?