Amado Filho

Meu querido, desde que você partiu para essa maldita guerra sinto uma granada explodindo em meu peito a cada lembrança.

Se ao menos, meu querido, você tivesse me dado um único abraço antes de jogar a sua mochila verde nas costas. Aquela mochila velha, de jeans surrado...

A dor que o meu peito invade é tamanha que tudo é vermelho sem você meu doce bebê.

Hoje cedo achei o seu primeiro origami encardido, já faz tempo... Lembrei dos seus primeiros passos, das suas primeiras palavras, da sua primeira dor de ouvido, do primeiro dia na escola, da primeira vez que andamos de ônibus e do nosso último sol.

Seu primeiro dez e os consecutivos.

Todos os orgulhos meu filho, meu amor!

E onde está você agora que não me responde? Sei que entendeu aquela carta que não assinei, não precisamos de identificação. Pra sempre serei sua guardiã. Desde a primeira flor sou sua mãe.

Se um dia um outro sol nascer com você, colheremos outras flores, sem medo dos espinhos. Eu não vou te bater se você cair, não vou brigar se ralar o joelho. Vou limpar toda a dor, toda a decepção e todo o medo de bicho papão.

O mundo cercado de trincheiras não tem a mínima razão de existir sem o teu abraço. O barulho de cada munição é canção se você confia o teu choro em mim.

Saiba acima de qualquer coisa filho que toda guerra, todo sangue e todo amor que morre numa trincheira renascem em algum lugar absurdamente lógico.

Nem a sua morte me trouxe o consolo. Nem ela mesma apagará a luz do fim do dia, a luz unicamente sua, a luz que lhe eternizou em cada canto dessa vida!

Saudades,

Mamãe.

Mariane Dalcin
Enviado por Mariane Dalcin em 09/02/2007
Reeditado em 09/02/2007
Código do texto: T375454