ALGUÉM SE IMPORTA?
Desabafo...
Havia infelicidade quando
éramos crianças, mas nem demos à mínima,
pois fomos criados para ver a vida
como diversão e levá-la do jeito
que menos podemos.
O que sinto é uma impotência diante de minhas
competências, parece que a única coisa que se mostra clara
é a tristeza, é tanto o que me magoa que o que me faz
feliz não tem espaço para chegar até mim. Tudo é tão frio,
as pessoas são tão frias, a fogueira que acendo nunca me
aquece, é uma prova de que eu seja mesmo um nada. Um nada
que além de ser nada é transparente e que além de ser
transparente não cheira. O que me faz mais triste é que
tenho muito a mostrar, queria dar tantos sorrisos... Mas
como sou um nada transparente e que não cheira, não posso
realizar meu maior sonho. Há pessoas que ainda me enganam,
juram que me vêem, juram que no meu rosto há lábios que
delineiam um sorriso, mas depois confessam que estavam
mentindo. Eu olho para elas, inclino a cabeça para o lado,
sinto a lágrima molhar os meus olhos e não sei se me
contento em saber que também não podem me ver chorar.
Isso é tão ruim, sinto tanta dor, é uma melancolia
que ultrapassa todos os consolos que me esforço para
ouvir. Não sei se o pior é saber que no fundo não quero
mudar, o que me aflige não é o fato de eu ser um nada, o
que me machuca cada dia mais é saber que ninguém se
importa. Nenhum humano acorda do nada achando que não se
passa de um nada, eu sei que não nasci assim, porém é tudo
que posso sentir, quando se tem muitos sonhos, quando tudo
o que soube fazer durante a vida foi se encorajar, os
sentimentos superam a forma. Tenho tantos defeitos e sei
que preciso mudar, é tão doloroso dizer isso: “preciso
mudar”, porque meu maior defeito sempre foi acreditar e
confiar. E nesse mundo em que vivemos estas não são
virtudes, eu queria que fosse, mas não são. O número de
pessoas que se aproveitam é imensuravelmente maior, isso
dói tanto, dói tanto porque sei que não falo por mim
apenas, há tantas pessoas que sentem a mesma confiança nos
outros e se magoam.
Meus sentimentos estão se partindo, é difícil
deixá-los ir, é como se eu me propusesse a nascer de novo,
e nascer de novo é tão doloroso... Ver aquela luz nos
cegando depois de passarmos tanto tempo na escuridão, a
luz tatua nos olhos o quanto nos é entregue violentamente
sem que peçamos e é nos tirado, com a mesma violência,
antes que nós agradecemos. Tudo o que eu queria, tudo o
que mais desejo, é a gentileza de alguém, de alguém que me
permita ser o que sou, que me permita fazer o que vim para
fazer, preciso ouvir uma voz que não minta.
É uma escolha difícil, continuar sendo o nada, o
qual espera que alguém venha tocar sua face e sentir seu
sorriso, na mais repleta sinceridade de quem realmente
sabe amar, ou me fingir fazer parte do todo, me deixar
contaminar pelo todo a minha volta e ser como os outros,
vestir uma máscara comum e visível por cima do nada e não
confiar tanto e nem acreditar tanto. A máscara é uma
solidão inconsciente e o nada é um sentimento de certeza
de que a solidão está ali.
Eu queria tanto contar para alguém o que ouvi
hoje, foi tão duro, me feriu onde não alcanço para fazer
curativos, a ferida vai ficar aberta para que eu me
lembre. Pior foi ter que fingir que estava tudo bem, mesmo
sabendo que para a pessoa que magoa pouco importa se está
tudo bem ou não, pior ainda é saber que se pode fingir ao
outro, porém não pode fingir a si mesmo.
No entanto, decidi continuar sendo um nada, pois
posso me acostumar à máscara e no fim de tudo ainda me ver
sozinha, pensando em voltar no tempo, talvez com um
cigarro na mão e nenhuma felicidade guardada no peito, com
um ar de arrogância nos lábios, arrependida de ter fugido
de mim mesma e caído no labirinto do vazio, com saudades
de quando eu ainda podia confiar e acreditar. Sendo o
nada, sei que estou sozinha, sei que posso acabar caindo
em enrascadas por confiar tanto que há algo de verdade no
olhar do outro, por acreditar tanto que alguém virá me
notar, mas uma felicidade eu vou ter: o contentamento de
saber que sempre fui eu mesma, que minhas lágrimas são
minhas e não de olhos vazios, que meu sorriso é meu e não
de uma máscara fria.
Ele me magoou ao mentir e ser duro comigo, mas
não teve força suficiente para me fazer mudar e me tornar
alguém superficial como ele, um tudo fingidor. Minha
vingança vai ser aprender a amar, enquanto ele só aprende
a mentir.
(como é bom ter amigos q nos ouvem quando estamos tristes... obrigada!)