DE UM AMOR NA INTERNET

21 de fevereiro de 2007

Minha querida ****,

Eu nunca esperei namorar você um dia, mesmo que pela Internet – mesmo que não seja namoro de verdade – ou pelo menos não é considerado. E antes de me encantar por você, eu não acreditava que realmente se podia ter um sentimento tão forte, sorrir olhando pra uma tela cheia de letras. Mas estas letras tornaram-se tão providenciais, tão queridas, tão desejadas, tão amigas. Em nossas vidas somos imprescindíveis complementos sim, eu acredito. Sei que minha vida não se findaria se você não houvesse, pois, até certo momento, eu consegui viver sem você, porém você me foi um bem imensurável. Tão grandiosa é a valia do teu carinho, querida, que me permito dizer que a minha vida não seria, hoje, tão gostosa de viver, se eu não a tivesse que lhe contar aos fins de semana.

Se eu lhe perdesse, eu juro que choraria. Não por eu querer, não por parecer romântico para você, e sim por que cada lágrima me livra um grau de dor. Doeria profundamente em mim, a tua falta. Apesar de você não estar aqui, só em pensar que você sente algo por mim, só em pensar que alguém me preza tanto, o meu coração já palpita todo bobo e a manutenção do meu sorriso diário funciona serenamente. Não que eu viva a sorrir, pelo contrário, eu tenho uma tristeza grande, ás vezes falsa, no olhar, mas tão forte é a sensação de estar bem quando penso em você, que esporadicamente se forma um sorriso no meu rosto. Nos meus lábios secos e quebrados se forma um sorriso tão tímido e escondido quanto a nossa união.

Várias vezes, me perguntei o porquê de eu querer lhe chamar de namorada ao invés de ficarmos sem este detalhe na nossa relação. Afinal, parece apenas mais um detalhe, já que pouco muda praticamente. Talvez seja um sentimento de posse, talvez eu tenha necessidade de dizer que você é minha. Será? Bom, foi uma hipótese que levantei, mas foi derrubada pelo próprio princípio desta relação: o de que o outro fique bem, seja como for. E você não é minha nem nunca será, ainda que eu seja seu... Não senti sempre vontade de lhe chamar de namorada, já que tinha um certo escrúpulo sobre eu me apegar demais a você. Um medo errado e atrasado. Quando me vi, já estava em seus braços, lhe declarando amor pelos cotovelos. Coisa de maluco? Não, eu não sou insano, sou humano.

Humano sim, por que só uma máquina perfeita pode ser eficaz o bastante para ser insuscetível aos seus encantos. Tive, desde certo ponto, consciência de que isto tudo seria difícil; foi e é mais do que eu imaginava. Preocupei-me muito com os meus sentimentos, se eu sentia algo de verdade. Confirmei que sentia, logo após: quando comecei a deixar de pensar em mim e começei a pensar em você; em como ecoava e as conseqüências deste sentimento na sua alma. Conclui que se uma máquina perfeita é capaz de resistir a teus encantos, só uma máquina mais-que-perfeita é capaz de ter sentimentos, é capaz de amar. Eu sou uma máquina mais-que-perfeita, como você.

Tentaram, por diversas vezes me desencorajar, dizendo que isto é um amor impossível. Mas mesmo que seja inviável um possível amor, esta experiência já me foi de um valor marcante e sei que, mesmo estimulado, não lhe esquecerei jamais. Muito aprendi com você. Aprendi a conhecer uma verdadeira mulher: sem frescuras e imbecilidades. Mas com sensibilidade suficiente para ser uma mulher. Entretanto não me encanta apenas a incrível mulher que você é; me encanta ainda mais, a pessoa que este corpo abriga. O seu apreço de mulher com a sua atenção de pessoa, lhe fazem alguém imensamente carinhosa. Eu poderia especificar cada parte que compõe você, Criatura maravilhosa, mas esta carta não pode ter mais de duzentas páginas... Então fui bastante breve. Espero que nossa estória não seja.

Com imenso carinho,

AHRX