Belém/Pa,  17 de Outubro de 2012.

Querido Vovô Dôrico,

Estou com muita saudade do senhor...

Fiquei lembrando dos maravilhosos momentos em que passamos juntos. E como não poderia ser diferente, sai de mim por um bom tempo. É sai desse meu tempo meu querido vovozinho e quis transitar em pensamentos pelo seu ...

E eu quis revê-lo e tê-lo, de novo,  aqui juntinho a mim mas, só nas lembranças que nos fazem viajar, por que lá aonde o senhor já está eu ainda não quero chegar, prefiro adiar nosso encontro se me fosse permitida a escolha (risos) ...

Eu me rio disso e muito... estou aqui sozinha...lembro o senhor rindo também, até ficar vermelho, pôxa! nunca vi ninguém mais bem humorado, cínico, cômico... Aquele Didi; o trapalhão lá da televisão, e ele nem chegava perto do seu jeito bonito, brincalhão, bonachão...

Eu achei melhor retroceder e reencontrá-lo lá atrás, lá em nosso passado... Ah! meu querido... Lembra quando a gente dizia; embora sabendo que o senhor aumentava o volume do aparelho, por que era meio surdo: _ Vô abaixa ai. (o som do rádio ou da televisão) e o senhor os carregava e os colocava no chão...

Ou então, só para aborrecer a minha também querida e saudosa vovó Zilda... o senhor agachava-se; abaixando seu próprio corpo.

Vó o senhor lembra? Lembra que ainda menininhas; eu e a mana Bebel, acho que era no nosso sexto e sétimo Natais, nossas idades respectivas... quando o senhor assim nos disse:

_ Escrevam suas cartinhas por que se vocês merecerem, se comportarem-se e se fizerem a lição todinha o Papai Noel disse que irá trazer o que pedirem de presente.

Nossa a gente nunca andou tão certinhas, tão zelosas e rabiscamos nossa cartinha ao papai noel... Eras! Até parece-me que foi ontem, ou agorinha de tão vívida esta cena, tudo me vem à tona de modo tão nítido...

Quando ao despontar da aurora eu e a mana ao pular da cama e ver nossa primeira bicicleta tenho quase certeza de que nossos olhos cintilaram mais do que o brilho do sol.

Queríamos imediatamente pedalar, nem queríamos tomar café,  e o senhor era todo mimo, contrariava a vovó... Naquele salão enorme da Santíssima Trindade... Lembra? Eu nem queria mais ir pra casa do papai e da mamãe.

Nem demorou tanto pro senhor tirar as rodinhas e rir dos nossos primeiros tombos... Naqueles dias eu nem me apercebia de quanta sabedoria o senhor nos repassava quando dizia:

_ É assim caindo; que vão adquirir equilíbrio para seguir em frente, até seguir firme e não cair mais...

Vovô nesse instante não rio mais, as lágrimas insistem em brotar... Mas... eu me contenho... eu imagino outra vez o senhor dizendo:
- Não chora tudo vai ficar bem...

Ah! Vô Dôrico, lembro quando nos meus 12 aninhos o senhor me deu aquele tênis que eu tanto queria, outra inesquecível alegria! Tudo bem que o da Bebel era mais bonito, era da 'Nike'; mas o que importava mesmo é que eu trocaria o meu feiozinho 'conga'.

E quando eu passei na Escola Técnica Federal do Pará: lembra? Lembra como eu cantava para o senhor e para o papai?

-" Alô, alô, alô papai. Alô vovô ponham a vitrola pra tocar podem comprar sorvete que eu passei na Escola Técnica"...

Nossa! Foi um grande feito, por que era muito concorrido, até chamavam de "O vestibulinho". Até hoje ainda é assim.

Eu e as meninas nunca esquecemos daqueles "bolos" que o senhor deu com a palmatória em nossas mãos; minha e da Bebel, por que saímos escondidas para a festa...

E os micos que passamos pois, não nos era permitido namorar... O senhor dizia que era só depois de completar dezoito anos, mesmo assim, comecei aos catorze, primeiro escondida e depois o Joy até dançou valsa comigo em meus quinze anos...

Nossa... Hoje vejo que foi tão legal de sua parte nos preservar o máximo que o senhor podia. E olha que ainda o achávamos mais light do que o papai, por isso que quando o primeiro namoradinho da Bebel teve de "pedir entrada". Ela dizia pra eu dar meu jeito que o meu dilema era com o papai... (Coitado do meu Joy; ainda bem que desde aquela época destacou-se nele sua grande virtude da paciência).

Os tempos mudaram vovô, mas se me fosse dado mudar alguma coisa das nossas vivências passadas... Certamente, eu deixaria ficar tudinho do mesmo jeitinho que foi...

Esse amor que eu tenho pelo senhor ultrapassa as barreiras do tempo, do espaço...

Quando eu me for daqui não esqueça de me receber ai com esse teu sorriso lindo e com a vovó do lado e também sorrindo...

Desta saudosa neta que lhe tem muito carinho.

Madalena de Jesus

 
Rezemos pela esperança da Ressurreição ...


 
Maria Madalena de Jesus Gomes
Enviado por Maria Madalena de Jesus Gomes em 17/10/2012
Reeditado em 30/08/2018
Código do texto: T3936905
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