A Buzina

A BUZINA

Todo dia um homem saía apressado de sua casa e para não chegar atrasado em seu trabalho, mal tinha tempo de se despedir de sua família enquanto seu único filho abria o portão para ele sair com o carro da garagem, ouvindo a buzina como que agradecendo ou se despedindo, sem saber realmente seu significado. A noite quando chegava, buzinava para que alguém abrisse o portão e mal tinha tempo para conversar ou brincar com seu filho.

O menino amava seus pais acima de tudo e foi crescendo dando muito orgulho a eles. Começou a trabalhar quando completou 15 anos, sendo muito dedicado aos estudos foi tendo oportunidades de crescimento na empresa e quando atingiu a maioridade já era independente financeiramente, cursando o 2o, ano de faculdade. No dia seguinte ao seu aniversário de 18 anos, matriculou-se em uma auto-escola e depois de alguns meses já tinha a sua carta de habilitação nas mãos e no sábado seguinte, previamente agendado com o seu pai, acordou cedo e esperou que ele se levantasse para acompanhá-lo até uma concessionária e comprar o seu primeiro automóvel. Estava muito orgulhoso por poder escolher o carro dos seus sonhos, pois podia pagar com o seu salário sem depender de ajuda de ninguém e entregou ao vendedor a relação de opcionais e um pedido muito estranho que surpreendeu ao seu pai:

Desligue a buzina.

- Por que isso, filho?

- Eu não quero me comunicar com os outros através de códigos ou gestos, quero me comunicar através de palavras. Não quero que me reconheçam pelo som da buzina de meu carro, mas que me identifiquem pelos meus olhos, pelo meu sorriso ou pela minha voz quando os desejo um bom dia.

- Ainda não entendi.

- Pai, eu reconheci o senhor durante todos esses anos pelo toque da buzina de seu carro e através dele eu sabia se o senhor estava de bom humor ou não. Quando a buzina era longa ou repetida, era bom não chegar perto: o senhor estava nervoso e quando era tipo tatararara fomfom, pronto eu sabia que podia ir pegar a bola, pois haveria 10 minutos de diversão. Cresci assim, interpretando o seu humor pela buzina do seu carro, como um cachorro que sabe quando pode e quando não pode pedir um carinho. Eu não quero repetir o mesmo erro.

- Mas você nunca reclamou disso!

- Reclamei sim pai, através dos meus beijos no senhor antes de dormir. Quando eu simplesmente beijava a sua face eu estava te dizendo que estava triste com sua atitude e quando eu o beijava com um abraço eu estava te dizendo que era o melhor pai do mundo.

Nesse momento o pai chama o atendente e lhe pede a mesma coisa.

- Por favor, desligue a buzina de meu carro também.

Será que não estamos utilizando a buzina para nos comunicar com nossos filhos, nossos pais, nossos irmãos, amigos ou colegas do trabalho?

É bom revermos nossos comportamentos de vez em quando.