MEU AMPARO À TUA VOZ

No início da madrugada de 16 de novembro de 2012

Preciso amparar-te a voz, a tua voz que tenta emergir, a tua voz antiga, a tua voz maior do que a minha, a tua voz maior do que a tua própria voz.

A voz do meu nome importa menos, muito menos do que a tua voz porque ela, a tua voz, tem o poder de ajudar a remodelar mundos, a reconstruí-los, a tua voz, por isso tento ampará-la com as minhas parcas forças, por isso tento ampará-la, a tua voz, com outro nome que não o meu, para que consigas voltar, inteiro, o mais inteiro que consigas para o todo que és, o homem de esperança, o homem de ação em fé, por ti, por todos, por nós, por mim, que eu importo pouco, que a minha voz é parca e pouca.

A tua voz não, não o é, homem; a tua voz é grande e forte, por isso ponho a teu serviço a minha, a minha parca voz a ponho a teu serviço, como sempre tem sido, agora com outro nome que não o meu, para que te re-conheças inteiro, no homem que te pertence – tu mesmo – homem imerso, ainda, neste ser só de desencantamentos. Fico porque preciso ficar, fico porque precisas de que eu fique, não importa se com meu próprio nome ou com nome-fantasia. Fico porque sou mulher, a mulher que não te posso ser, no efetivo dos dias.

Estou tentando devolver-te o que eu possa e consiga do que um destino estranho me fez tirar de ti, eu o estou tentando por este meu amor a ti e ao teu destino, pelo amor que eu ainda possa ter por mim, por este meu sentimento de infinito compromisso contigo, por esta aliança invisível, poderosíssima, quase mais do que tudo o seja – tenho que admiti-lo – esta minha aliança contigo. As outras alianças, também fundamentais, são as do meu compromisso com aquela que sabes e com outros seres de vida inteira, bem como com alguns vindos depois da vida inteira, compromissos os quais urge também admitir, neste aqui e neste agora, por lealdade a eles, por lealdade a mim, por lealdade a ti. Não há traição nem divisão, só a simples verdade, que cada qual com a parte que lhe cabe, que já não tenho medo de perder, pois julgo já ter perdido quase tudo o que tinha a perder, pois, como diz Drummond “Se se partiu, cristal não era...” O paradoxo maior é que esta minha aparente desistência de ti é sempre mais uma tentativa para não te perder nunca mais – esta tentativa agora é fundante, fundamental, maior do que todas as outras o tenham sido, reunidas.

Por isso tudo te venho à presença com meu rosto inteiro, na esperança de que me vejas e de que me aceites como te vejo e aceito, a ti, com tudo o que és e com tudo o que foste, com tudo o que permaneces e com tudo o que mudaste, com tudo o que ainda venhas a ser em ti, ainda que sempre assim, sempre à distância, nosso presente fado-destino neste tempo e nesta vida, nosso legado de sempre, as mesmas de sempre interdições, por todas as razões possíveis e impossíveis, a despeito de nós, também por nossas ações e omissões.

Que a ternura e a fé da tua alma voltem a te agir nos teus todos territórios da vida, da tua vida, desta tua vida, desta tua voz com poder e força para erguer novos edifícios ao movimentar outras forças e ações, neste mundo ermo de quase tudo, neste país de tantas farsas, de tantos enganos, engodos, para se dizer assim, com eufemismos, não porque eu seja, como possa parecer, uma pessoa em cima de muros, mas, por ser este o meu jeito de dizer as coisas, não melhor nem necessariamente pior do que outros modos de as dizer, as coisas. Por isso esta minha palavra aqui, no Recanto das Letras, onde eu a posso dizer, minha palavra, com meu nome, pequeno e frágil nome, mas nome que é meu, com o qual meu pai e minha mãe me batizaram neste mundo e neste país pelo qual e para o qual sonhaste rumos sem as máculas que têm, a ele, país, coberto o corpo e alma.

Aqui minha palavra por teu renascimento, do teu âmago a cada um de teus gestos, o renascimento que te for possível, Amigo da minha alma, Amigo da minha vida; aqui a minha voz, minha voz de mulher posta a teu serviço para que ainda possas ser, para que ainda te possas ser inteiro o mais que possas: teu ser pessoal, teu ser coletivo... ainda te possas... ainda te consigas, agora, sempre, não permitindo que eu tenha abdicado de meu próprio nome em vão ( não aqui, no Recanto das Letras, graças ao Pai, graças à Mãe, que assim sempre o possa ser). Não, não permitas tal, Amigo meu. Não permitas que tenha sido minha abdicação, mais esta, em vão. Não o permitas. Que os Poderes do Alto nos protejam e nos esclareçam, a todos, agora e sempre, amém.

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