Carta para Ti VII

Sei que me dirás do alvorecer, como se me fosse possível abrir os olhos em dias assim. É deste silêncio de mim mesma, que muitas vezes preciso, enquanto as palavras em sua desordem, buscam razão para explicar-me. É o lume de cada letra que resgata meus olhares, ressuscitando-me dos meus escuros. Pudesse um grito romper os muros, em que me detenho; pudesse a súplica desabrigar-me de mim; pudesse reconhecer minhas próprias sendas; pudesse compreender que viver é mais que simplesmente existir.

Os dias são longos, quando os passos apenas ensaiam caminhos. No olhar suspenso, o realizar desejando ser mais que expectativa. Estou sempre maré cheia, transbordando os emudecimentos do que não sei descrever. Há sempre uma aflição contida, provando do limiar dos meus abismos.

Nada há que já não tenhas feito. Preparas-me a casa que me aguarda e teus braços deslizam convites de abraços, como a massagear meus cansaços. Tuas mãos sempre estendidas, sinalizam-me caminhos por onde a esperança é companhia.

Não sei de onde me vem esta vontade de escrever-te. Buscar-te é esculpir as delicadas formas do sonho, que meus olhos não conseguem dormir. Falar-te é saciar esta fome de ternura do meu coração sempre em inanição. Dizer-te é beber da nascente, onde se guarda a palavra sedenta.

Fernanda Guimarães

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Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 04/08/2005
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T40181