Assim Começa meu Livro

Ontem, 26 de novembro, á meia noite, toda a história da minha vida se transformou numa ficção: Amantes ordinárias de um casamento em ruína, com murmúrios vergonhosos aos meus ouvidos. Mas não o culpo. Quanto mais mulheres se conhecem, mais disposto se fica para não viver com uma só. E quanto mais nos embrenhamos no mundo das fantasias, mais em palcos alheios nos assistam como palhaços. Essa foi a peça que infeccionou a minha saúde mental e afeta muitos dos meus relacionamentos hoje em dia.

Tenho agora que viver sozinha, como uma esposa enlutada que precisa usar um véu em seu rosto para se esconder de todos em todos os lugares. Mas a verdade esta aqui. Envergonho-me da pilhéria que tive que viver. Se fosse eu a autora de todos aqueles casos, certamente ele me teria matado.

Pensava que o casamento era como uma obra de arte que bastava existir para viver uma vida. Agora vou obedecer meus instintos passionalmente, mas ás vezes forçando-os um pouco.

Comecei á registrar o primeiro ato sexual. Até então só conhecia meu marido. Mas logo fui uma boa amazonas, e bastante conhecida no mundo dos homens e da caça. Sou alta e “cheinha”. Gosto do jogo da sedução, e, diga-se de passagem, gosto da maioria das experiências sexuais que tive. Sou a fúria em erupção, transbordando de iras vingativas que afloram do nada. Tenho vontade de matar os homens. De sexo. Alguma coisa esta me acontecendo. Vem acontecendo á poucas semanas, que não sei explicar. Não sei mesmo. Já entendi que as aventuras são sem futuro, mas algumas por acomodação ou preguiça se prolongam. Ás vezes eu penso que se trata de uma doença epidêmica, cujo vírus se aloja em mim.

O sexo é um assunto da qual me interesso. Das minhas sensacionais praticas sexuais, nunca me entrego totalmente aos delírios do amor, pois tenho padrões e regras exclusivas. Tenho uma enorme intenção de agradar, mas á mim mesma. Não sei fingir o que não estou sentindo. E vice-versa. Em meus ligeiros contatos, cada experiência é extremamente compartilhada por ambas a partes. Nem sempre isso acontece, mas... O parceiro no amor jamais sonha sequer o que existe na mais profunda dimensão da minha alma, quente, prodiga, amável que se liberta em mim todos os dias...

Estou com 37 anos. Já tive um filho, mas tudo ainda esta bem em mim. Minha pele é branca e macia. Meus olhos azuis. Meus cabelos mantêm o loiro natural. Não tenho rugas em volta dos olhos. Meus lábios são carnudos. Algumas marcas de expressão na testa. Minha menstruação é regular e não tenho problemas com a TPM. Nunca tive. Não tenho problemas de saúde.

Fico tentada á sair todas as noites. E poderia fazer uma opção, entre ficar em casa ou pegar um homem. Optei. Pegar homens.

Uma mudança esta ocorrendo dentro de mim. Como posso explicar? É como se uma porta se abrisse e eu pudesse pegar todas as criaturas e viver em liberdade. Tudo já escapou do meu controle. Posso captura-los um a um. Sou cruel e furiosa seguindo meus próprios caprichos e não minha razão. Isso me preocupa, ás vezes. Não gosto de perder o controle sobre os homens. Aprendi depois de ser mandada a vida toda. Ficava sempre á sombra. Com mulheres sou amiga ou inimiga. Tenho uma desconfiança de todas elas, mas também o mais ardente desejo por eles. Prefiro andar sozinha á companhia delas. Jamais fui dependente de drogas, embora tenha experimentado todas. Até então não bebia nada. Hoje conheço e aprecio todos os tipos de bebidas alcoólicas. Certa vez ouvi uma velhinha dizer:

_Jamais vicie em álcool ou drogas. Não há futuro nesse mundo. E não se entregue a homens sem usar preservativos. A AIDS leva á morte. E sempre o homem deve amar mais uma mulher, do que a mulher amar mais um homem.

Por onde anda essa velha que não esta aqui agora, para que eu possa fazer-lhes algumas perguntas?

O que faço com tantos desejos devassos que estão dentro da minha cabeça? E essa vontade de usar os homens?

Isso é bobagem. Vontades e desejos dão e passam. Passa?

E quantos pobres diabos passaram por mim... Sim. Vi muitos. Comparo-os, e não acredito que as pessoas possam mudar com o tempo. Sim, mudam, pra pior.

A paixão deles eu exploro impiedosamente. Ás vezes sou uma santinha, com um sorriso meigo, no instante seguinte viro Medusa, com veneno na língua e os dedos feito serpentes. Pergunto-me por que faço isso. Não sei. Juro que não sei. Pelo prazer? Quando acontece viro uma explosão em fogo. Dai não sei mais quem sou. E como me sinto agora? Como uma ratoeira que pega homens pequenos, grandes, fracos, fortes, ricos, pobres, sozinhos e tristes. Ou como uma pá carregadeira que sai empurrando tudo. E depois? Sinto-me como se ganhasse um bilhete premiado.

Eu tenho razão. Nada perdi. E ganhei muita coisa, ou pelo menos penso que ganhei. Não sinto qualquer arrependimento. Isso me faz lembrar as minhas aventuras. Peço que me desculpem como fui presunçosa, corajosa! Mas não tenho qualquer problema em aceitar tudo que fiz. Mas aprendi?

Claro! Sempre digo a mim mesma: É uma época que só quero ver o pau entrar fornalha á dentro... Isso deve trazer lágrimas aos meus olhos? Não. Não traz. E por que deveria?

Magoei muitos, fiz inimigos. Mas tenho sorte o bastante para manter homens uma noite inteira de inverno na minha cama. Ás vezes até duas.

Estou empenhada agora para fazer uma viagem muito perigosa. Uma viagem para dentro de mim, e contar quem sou, por que fiz. Será?

Tenho que conversar comigo mesma e extirpar as coisas ruins que existem dentro de mim, coisas sinistras que me atormentam em meus sonhos de mulher. Tenho que cortar os laços que me prendem ao passado, e podem estar certos que isso não será tão fácil assim como não foi a minha separação. E não pensem que tenho amor pra traz! O medo é que as coisas se repetem. Tenho que me afastar de histórias que me fizeram sofrer e me debandar ás aventuras sem dó nem piedade. Há terror nisso? Não! E eu me empenho na luta, a qualquer hora do dia ou da noite e madrugadas cinzentas. Começo agora, finalmente me vingar e exercer minha sutil vingança pelas infidelidades, reais ou imaginárias.

No meu rebento sexual sou promíscua, mas também já fui monógama por educação. Sou tão egoísta que chego á conta-los! Quantos?

Os homens rejeitados espalham o escândalo. E aos que eu cedo, com gestos de gratidão, são vorazes companheiros. E assim sou condenada pelo que faço e pelo que não faço.

_Nem cobrar você sabe?! Disse-me alguns.

Ao inferno com tudo isso!

Abro o caderno da minha imaginação. E agora? Digo a mim mesma. Vou começar. Pego a caneta. Prefiro a caneta. Dispenso recursos tecnológicos. Sinto-me bem assim. Tento escrever. Sinto-me bloqueada. Acham que é fácil? Não consigo traduzir minhas fantasias, a saber, que meia dúzia de pessoas poderá ler. Enquanto escrevo começo pensar quem sou. Pouco me importa que os outros saibam quem sou eu. Contemplo minha própria fantasia e me sinto envergonhada. Vás me colocar num paredão? Não me importo. Viro-me de novo e pego a caneta. Então me lembro de coisas. Vasculho as paredes da minha mente. Não vou ter dificuldades em escrever o meu dia a dia. Não sei ser diferente das histórias antigas. Não acredito em histórias novas, tudo se repete. Se minha história não será real, ficará perto. E se essas histórias serão esquecidas, não serão por mim. Ficarão sepultadas no meu subconsciente. Fecho meu caderno. Amanhã começo a contar. Saio na noite escura e começo a gritar: Homens! Homens!

LOIRALIZ
Enviado por LOIRALIZ em 04/12/2012
Reeditado em 25/12/2012
Código do texto: T4019447
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