Confissões

Eu te amo! Sim, eu me rendo! Eu te amo, meu amor! Sim, eu confesso! Admito com todas as implicações contidas nestas três curtas palavras. Declamo aos quatro cantos este amor, com toda a sinceridade do meu coração, com toda a intensidade deste sentimento.

Lá fora a chuva cai, milhares de gotas d’água banham o solo como as lágrimas que outrora molharam a minha face. Lágrimas do sofrimento causado pela dor de amar. Sim, amar muitas vezes significa desejar o sofrimento. E nesse desejo obscuro pelo sofrimento nos machucamos amiúde. Esta busca vã e isenta, deixa marcas profundas, que nem mesmo o tempo é capaz de apagar. Pegamos então os cacos arranhados do nosso coração e escondemos cuidadosamente numa caixa de insensibilidade. Calçamos o interior com suportes de indolência, embrulhamos meticulosamente com relacionamentos superficiais com muita razão e pouco sentimento e muitas vezes ainda estampamos o aviso “cuidado frágil” com uma aliança no dedo e um compromisso “estável”. Os olhos perdem o brilho encantado da juventude, os sonhos se desfazem como os castelos de areia quando tocados pela vaga do mar. E se fez a escuridão.

Meu coração estava escondido, me sentia invulnerável, pensava ser incapaz de me envolver novamente. Mas você apareceu em minha vida. Primeiro foram os seus olhos inocentes, vívidos, cheios de luz, que me cativaram. Depois uma amizade gostosa, repleta de cumplicidade brotou em nossos corações. Pouco a pouco vi alguma coisa mudar dentro de mim, dia após dia via crescer o desejo de estar junto a ti o tempo todo. Meus pensamentos eram teus, meus olhos almejavam os teus, minha boca queria gosto da tua boca, meu corpo buscava desejoso pelo calor do teu corpo, eu precisava cada dia mais do toque macio da tua mão sobre minha pele.

O amor tem dessas coisas, chega sem ser convidado, aparece nos momentos mais inusitados, brota em terras infecundas, sobrevive aos ambientes mais inóspitos.

Eu não conseguia entender o que estava acontecendo, o que era aquele sentimento que eu matara dentro de mim tempos atrás. Por que eu sentia ciúmes de alguém que, na ignorância dos meus pensamentos, não passava de uma pessoa querida por quem eu nutria uma amizade sincera e desinteressada e nada mais. Não podia compreender por que meus pensamentos estavam, cada dia, mais povoados pela presença dessa pessoa. Por que eu ficava repassando em minha mente cada momento que passava junto dela?

Era o amor. Este mesmo noivo secreto que eu a tanto me recusava esposar, este sentimento profundo que me causava tanto temor, tanta dúvida e incerteza. Que me fazia novamente ver a vida com outros olhos. Que outra vez me mostrava a beleza de um simples pôr-do-sol, do vai e vem das ondas, dos ventos balançando as flores no jardim, da chuva que cai na noite escura. Enfim, era o mesmo amor que me faz neste momento, subjugado, preso aos laços deste sentimento confessar-te meu amor: “eu te amo”!

Cisne Negro Notreve
Enviado por Cisne Negro Notreve em 05/03/2007
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