Carta do fim do mundo

Judasnópolis, 20 de dezembro de 2012.

Observação: Se você que está lendo esta carta não for minha prima Leandra Rebeca Conceição Nonato, procure por ela e entregue-a imediatamente. Ela mora perto da mercearia do Zico medeiros, atrás de uma loja de comida para cachorro.

Querida prima Leandra Rebeca.

Espero que estejam todos em paz e com saúde.

Não sei como está aí, mas por aqui dizem que o mundo está acabando. Está tudo muito quente, de vez em quando relampeia e o Corinthians foi campeão no Japão. Além do mais ouvi dizer que morreu aquele senhor que fez Brasília. Ele era velhinho velhinho. Este ano também não tivemos carnaval aqui na cidade. O prefeito disse que o dinheiro seria para construir um abrigo para as chuvas do ano que vem. Não sei como ele pode confiar tanto assim que um pé d´água vá cair com doze meses de antecedência em um lugar que chove pouco. Mas vá lá, não gosto muito de carnaval mesmo.

Eu não sei como funciona esse negócio de final de mundo, se vai acabando aos poucos ou se vai tudo embora de uma vez, então aconselho a você que abrace as pessoas que estão aí perto. Não se preocupe com as mais distantes por agora. Às vezes um abraço salvará uma alma e é a única coisa que algum desgraçado moribundo possa ter no momento de pavor.

Eu tentei falar com o tio Teodomiro mas ele já saiu em viagem, vai chegar aí dentro de três dias. Se der tempo de vê-lo diga que fui procurá-lo para um último abraço. Talvez você queira encontrá-lo somente no fim mesmo, pois ele continua reclamando de tudo. A tia Geudileza ganhou um cachorro daqueles pequenininhos e orelha pontuda que late até pro vento, motivo de o velho estar mais chato ainda.

Se o mundo não acabar aí até o final do mês, procure o Gervásio na loteria. Ele fez um bolão da Megasena da virada e prometeu pra mim um percentual caso ganhasse. Pode ser que sirva para você comprar coisas boas. Uma cópia do jogo está atrás do Santo Onofre no quarto da sua mãe.

É só isso que tenho para lhe escrever, mas meus sentimentos são grandes e profundos. Não posso perder tempo. Fiquem bem que tudo vai dar certo. Se o mundo não acabar agora um dia a gente vai embora mesmo, então vai vivendo aí como der. Seja feliz.

Do seu primo Carlos Aécio

.