ACEITA O FIM ( continuação)

Entre ontem e hoje, notivaguei ( desculpa, esqueci de tua aversão a certo linguajar rebuscado ou, como dizes, rococó). Retifico: vaguei por não sei quantas horas durante a noite. Lembro que durou um tempo infindo, era a minha sensação enquanto caminhava por ruas (nem recordo com precisão de por onde andei a esmo), em busca da decisão. Afinal, em casa chegando, fui direto à suite e a encontrei já dormindo. Por maior que seja a tensão emocional, o sono lhe é fácil e leve. Sempre foi. Silencioso, esse dormir. Ela nunca roncou nem emitiu qualquer outro ruído quando imersa no repouso absoluto. Joguei-me na minha poltrona e de olhos fechados continuei ruminando a situação. Meu dilema: ela, ali, a um e meio passo de mim, ou ... tu?

Quando desembarquei de meus pensamentos, "mergulhei" numa ducha que não sei quanto durou. Deves estar percebendo que, naquela circunstância, cronologia era inexistente e relógio não tinha qualquer serventia. Já de pijamas, percebi que ela tinha mudado de posição na cama, ficando suas pernas, quase inteiramente à mostra. Curvei-me para cobri-la. Foi então que senti. Era a inconfundível mistura: sentimento, vontade, com imediata reação corporal. Debaixo de minha roupa, um sinal físico de que aquela visão me deixara ... como dizer? Arrebatado! Acendera minha LIBIDO. Desejo de fazer minha língua deslizar naquelas coxas ... e olha que esta parte não é exatamente o forte do corpo dela. Estava com tesão, mesmo. E pelo conjunto da obra, a maior parte coberta por roupas de dormir e pelo lençol que parcialmente ainda ocultava sua pele.

Senti o impulso, logo controlado, de me deitar por trás e começar a execução do repertório de carícias preliminares. O prelúdio, chamado. Não tomei, entretanto, a iniciativa de chamá-la. Em parte, devido a uma terna preocupação em deixá-la perturbada, confusa, já que devia estar sob efeito de medicamentos - ansiolítico e antidepressivo, associação química com a qual vinha assegurando o controle emocional desde quando se inteirou de que não detinha o monopólio do meu amor. Ao mesmo tempo, eu colocava em prática uma lição transmitida pelos mais experientes e de que nunca me sobrou arrependimento quando segui à risca: em determinadas situações onde o lado emocional sobrepaira: NUNCA AGIR POR IMPULSO. Pelo menos, não pelo PRIMEIRO. Fazer a decantação de sentimentos e desejos para afinal certificar-se da consistência da decisão.

Ocorre que na seguinte noite, repetiu-se a sequência potencialmente explosiva de ternura, pena, carinho e excitação libidinosa. Abstive-me da execução de gesto que se fizesse, para conhecimento dela, expressão concreta do que sentia. A tal ponto era intenso o meu desejo que sonhei com ela, mesmo estando ao seu lado, mas, óbvio, sem tocá-la.

Outro dia e já fora da suíte conjugal, a visão de alguns detalhes de seu corpo funcionava como detonador de certos desejos, sobre os quais me abstenho de especificar por ser-te possível deduzir. Acrescento que lembrei sim, de ti, mas ... O desejo por ela suplantava. Ficar com quem? Até agora, se optasse pela menos querida, seria por questão de pena. Mas como tudo na vida é passível de mudança ...

Amanhã te informarei com mais clareza quem foi a escolhida, se tu ou ela.

Alfredo Duarte de Alencar
Enviado por Alfredo Duarte de Alencar em 10/01/2013
Reeditado em 13/08/2016
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