Para meu filho... que não veio

Oi , meu bebê. Você que não veio. Você que era tão temido. Mas desejado. Que pena amor. Te queria sim. Mas tinha medo. Medo que o final não fosse o esperado. Medo de perder o comodismo. Medo de perder a liberdade. Medo de perder o meu amor. Desculpa filho. O medo superou o desejo. A tranqüilidade superou o desespero. Você não veio. Sonhei com isso a minha vida inteira. Como seriam seus pezinhos, suas mãozinhas, seu sorriso... O que eu iria te ensinar, o que eu iria aprender... Perdoa-me pelo medo. Tive muito medo. E a constatação de que você não viria me deixou inquieta, frustrada, sem um rumo. Me pegou assim sonhando com você. A culpa apareceu. Imaginei como seria ter você evoluindo dentro de mim, o Israel sentindo você crescer, amando junto comigo esse ser maravilhoso que veria. Mas também vi que seria difícil, meu bebê. Vi que não entenderiam. Que não te aceitariam. Mas eu te aceitaria. Seu papai Israel te aceitaria. Sabia que até um poema você já tinha? Um lindo poema que seu papai fez. Mas você não veio. E eu senti assim. Menos mulher, uma estranha no meio de tanta fertilidade. E eu a infértil. A não-geradora. Perdoa filho, mas cada dia que a dúvida surgia o desespero nos apavorava. Um minuto estamos conversando sobre o seu nome, Júnior, Julinho; em outro chorávamos de medo e se fosse verdade? Logo após lembrávamos tantos momentos perfeitos que passamos e que seria fruto deles. E sorriamos como crianças diante da possibilidade. Dor, lágrima, esperança, alegria. Tudo passava ao mesmo tempo para mim e para seu pai. Nós já te amávamos já te queríamos e tínhamos medo. “Calma benzinho se vier será amado, cuidado. Será mais difícil, mas muito amado”. Dizia o seu pai. Dizia sua mãe. E foram os dez dias mais longos das nossas vidas. Acordávamos e dormíamos pensando “será? E se for como vai ser”?

Mas você não veio. E a constatação não me fez feliz. A realidade machucou. Me senti a ultima, o nada. Não iria ter seu sorriso, ouvir sua voz me chamando de mamãe. Seu papai não ia ouvi “papai o Dan brigou comigo” ou ouvir o seu pai dizer “o Julinho rasgou os meus papéis” (olha ele tem muito papel não ia gostar nem um pouco). Eu não teria a chance de te ensinar, de te embalar, de implantar sonhos, de te ver viver. Senti-me só. Você não veio.

Sua mãe, Andréa.

Essa carta foi feita em homenagem ao nosso filho (meu e de Israel Goulart) que infelizmente não veio, não foi concretizado. Foi real tudo isso. Obrigada a todos.

Andréa Mélo De Almeida Farias
Enviado por Andréa Mélo De Almeida Farias em 11/03/2007
Reeditado em 12/03/2007
Código do texto: T408892
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